12.11.14

A UNÇÃO COM ÓLEO DE TIAGO 5:14

A UNÇÃO COM ÓLEO DE TIAGO 5:14


Moisés Bezerril

Unção Com Óleo - CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES:

1. O tema da unção com óleo tem sido largamente explorado por várias escolas de interpretação do Novo Testamento, e é um tema debatido entre “scholars”, críticos e teólogos sistemáticos. Então, não é um tema novo. Sobre ele há muito se tem debatido e escrito. Muitos pastores no nosso meio, inclusive reformados, têm usado dessa prática. Contudo há necessidade de um esclarecimento quanto à natureza desta unção com óleo; de como deve ser feita e em que casos deve ser usada. Isso porque estamos vivendo uma época em que esse tema caiu em um extremo semelhante ao da Igreja Romana que usa este texto e prática, ainda hoje, como um sacramento. Há muitas igrejas e pastores sérios que estão caindo no mesmo erro que a Igreja Romana caiu. Especialmente porque hoje contamos com o movimento de sinais e maravilhas que está indo além da Igreja Católica Romana. 

2. Muitas interpretações têm sido sugeridas para este texto. Muitas interpretações têm sido meramente produto da influência pagã que sutilmente tem ganhado espaço na igreja cristã, sem qualquer sustentáculo exegético para o texto. Outras interpretações fluem de um transbordamento de idéias pentecostais para dentro do texto bíblico, revelando total ignorância do contexto e da teologia bíblica do assunto. 

3. Parece que com o avanço do movimento de sinais e maravilhas, os pregadores se sentem, de alguma maneira, forçados a “acreditarem” nesses movimentos e em suas idéias, simplesmente por se sentirem ameaçados de serem considerados “radicais” se demonstrarem opinião oposta a eles, ou mesmo “incrédulos e carnais” se não crerem na “terceira onda do Espírito”. Muitos estão afirmando que o que se faz no movimento de sinais e maravilhas está correto, caso contrário não seria espiritual. Se formos contra estes movimentos somos logo chamados de não espirituais e radicais. Paradoxalmente, hoje se emprega o termo “radical” para quem não é pentecostal. Nesse caso a Confissão de Fé de Westminster seria radical e a própria história da Igreja Presbiteriana também. 

4. Uma grande parte das pessoas que adotam uma interpretação diferente para o óleo da unção de Tiago 5 está ligada ao movimento de sinais e maravilhas. Temos pregadores reformados que usam a unção com óleo, mas na grande maioria são pessoas envolvidas com o movimento de sinais e maravilhas. Isto não quer dizer que vamos apresentar um trabalho com vistas a refutar idéias somente por causa de seus defensores. Nosso objetivo é fazer uma abordagem histórico-exegética do texto, de tal maneira que nos forneça diretrizes certas para o uso ou desuso da unção com óleo de Tiago 5. 

A NATUREZA DO PROBLEMA 

A natureza do problema, o qual pretendemos analisar e investigar à luz da história e exegese do Novo Testamento é: 

a) É a unção com óleo um mandamento para a nossa igreja e nossa cultura dos dias atuais? Esta é a primeira pergunta que se faz porque o texto é um mandamento e todo mandamento se dirige ao povo de Deus. Este texto estaria falando para nós hoje? 

b) O que representa o óleo? 

c) Qual a sua importância para a cura nos dias modernos? 

d) Qual a sua verdadeira natureza e função no processo da cura? 

e) Quem deverá ministrar o óleo? 

f) A que tipo de doente deve ser ministrado? 

g) Como deverá ser ministrado? 

A problemática se estabelece, não somente porque a Igreja moderna simplesmente faz uso do óleo, mas, exatamente, porque a unção com óleo também tem sido vista como um ato de poder. Eu não teria problema algum com esta questão, se as pessoas que administram o óleo, entendessem a natureza neo-testamentária do óleo. O problema se estabelece porque se tem desvirtuado o verdadeiro sentido do óleo desde a época pós-apostólica. Os apóstolos não erraram quanto ao uso do óleo, mas a Igreja errou e chegou no século XII ao extremo da prática sacramental da extrema-unção. Desde esta época o uso do óleo tem sido simplesmente uma repetição de erros doutrinários da Igreja ao longo da história. A unção com óleo tem sido visto como um ato de poder em si mesmo, não da oração, e é chamado de “ungido” ou “consagrado”, quando muitos pregadores têm orado sobre ele, para que, ao estilo das religiões pagãs, este elemento venha a desencadear um poder curador sobre a pessoa ungida. Essa é a versão mais popular do óleo. Porque se dá esta visão? 

Nosso objetivo, portanto, é desmistificar esse suposto uso do óleo no Novo Testamento, fornecendo razões para uma teologia sadia da oração e da cura. Vejamos alguns argumentos importantes sobre o assunto: 

A UNÇÃO COM ÓLEO NA HISTÓRIA DA IGREJA 

A unção com óleo era uma prática costumeira em Israel, (Is 1:6; Lc 10:34). A unção praticada era de duas naturezas: 1) Unção para fins culturais; 2) Unção para fins sacramentais. Havia a unção destinada exclusivamente à higiene, o cuidado com o corpo, à beleza, para algumas enfermidades, para embalsamar os mortos. Este é um ponto que vamos desenvolver mais adiante quando falarmos de duas palavras gregas muito bem usadas na Septuaginta: aleifw (tipo de unção cultural, ligada aos costumes) e criw (unção religiosa, sacramental, de onde se origina a cerimônia de crisma da Igreja Católica – criw, se refere a unção que era usada para ungir profetas, sacerdotes e reis porque ela vai tipificar exatamente a comunicação do Espírito de Deus para tais ofícios). Ser Rei em Israel era ser capacitado pelo Espírito de Deus. Por isso tinha de ser ungido, pois a unção representava a posse do Espírito Santo para desempenhar aquela função. 

As propriedades medicinais do óleo foram louvadas por Filo (Somn. M. i. 666), Plínio (N.H. xxiii. 34-50) e Galeno (Med. Temp. bk. Ii.). Os judeus, como também outros povos antigos usavam o óleo como remédio em aplicações terapêuticas; mas geralmente, devido à falta de conhecimento científico, a eficácia do óleo estava estritamente relacionada à mente do paciente. Muita coisa que se inventou depois com respeito ao óleo fez com que esta substância se tornasse um elemento místico, mesmo antes do cristianismo. Em Israel se fazia um uso sadio do óleo, mas o paganismo usava-o de forma distorcida. A igreja apóstólica fazia uso correto, mas o paganismo que se introduziu nela distorceu o seu uso e isso vem até os nossos dias. Mesmo entre os povos pagãos já havia o uso místico do óleo. 

O testemunho dos escritos rabínicos quanto ao uso do óleo é abundante, provando que a prática da unção terapêutica em Israel é algo praticado em larga escala. Nos escritos dos rabinos há muitas ordens quanto ao uso do óleo e em quais enfermidades ele deveria ser usado. 

Neste texto, vemos claramente que a unção com óleo é acompanhada de cura miraculosa em resposta à oração; o mesmo que acontece em Marcos 6:13. Estes são os dois únicos textos – Mc 6:13 e Tg 5:14-15 – em todo o Novo Testamento que associam a unção com óleo à cura divina. 

O Evangelho de Marcos não faz mais nenhuma referência à unção com óleo. Mesmo no final do Evangelho, quando Jesus faz todas as promessas para a era apostólica (Mc 16:18), a unção não é citada alí. Em todas as recomendações de Jesus no final do Evangelho de Marcos não encontramos nenhuma para que se derrame óleo sobre os enfermos afim de que eles sejam curados; não é uma instituição de Jesus mas também não foi contra Sua vontade. 

No texto de Marcos 6:13, não houve nenhuma instituição formal do ato da unção, o que parece também não contrariar a vontade de Jesus. Mesmo não sendo ordenado por Ele, foi permitido ungir os enfermos. Nosso entendimento deste texto é que a unção com óleo foi um apêndice cultural que transbordou para a pregação do evangelho porque serviu muito bem como credenciais apostólicas. Nós não vamos encontrar nenhum uso sacramental desta unção. Isto porque o verbo grego não é o mesmo para unção sacramental e também porque não há nenhuma ordem em nenhum outro lugar do NT para se usar o óleo. Outra razão é porque o mandamento de João quanto à unção com óleo parece ser muito inclusivista. Por isso tende a ser um mandamento quase específico por causa de uma situação específica na Igreja. 

Se Jesus não instituiu a unção com óleo, se os apóstolos não colocaram na lista dos dons (de cura) e se foi usado por Tiago que é de uma época muito remota envolvendo uma abordagem judaica do Evangelho, este argumento do transbordamento deste elemento cultural para a credencial apostólica se encaixa bem. Como aconteceu este transbordamento cultural para uma dimensão espiritual? Como é que o óleo deixa de ser símbolo de cura? Toda vez que aparece a palavra “ungir” relacionada a cura divina, sempre é o termo usado para a unção cultural. Não é unção sacramental. Unção sacramental só é encontrada em I Jo quando ele se refere à unção do Espírito. Também é usada quando se refere a unção de Jesus, a unção de profetas, mas quando se refere a enfermidades não há a unção sacramental e sim unção terapêutica (cultural). Mas como pode ser unção terapêutica se os apóstolos estavam ungindo para curar enfermidades incuráveis? Como pode ser? Aqui podemos ver que o óleo saiu dessa dimensão terapêutica e passou a outra dimensão que era simbolizar uma operação divina. 

O ponto é que os apóstolos fizeram uma coisa que todo mundo fazia (dentro do contexto primitivo e judaico da evangelização apostólica) naquela época, com uma única diferença: As pessoas que ungiam não conseguiam curar enfermidades graves com óleo, pois ao que nos parece, o óleo somente resolvia problemas muito simples, como lesões superficiais leves. Na parábola do Bom Samaritano o texto descreve um homem caído, semimorto, por ter sido surrado violentamente. Mas o samaritano que passava unge-o com óleo e vinho. Os apóstolos fizeram uma coisa que era comum na época. Dentro do contexto primitivo judaico da evangelização não se vê isso (Igreja primitiva). E dentro do contexto gentílico não vamos mais encontrar unção com óleo. Com Tiago vemos que o contexto é puramente judaico. Sabemos como Lutero (erradamente) repudiou a Epístola de Tiago porque era muito judaica. A sua linguagem é muito judaica por causa da época em que foi escrita e os temas são abordados numa perspectiva judaica, mas é verdadeiramente cristã. O que diferenciou os apóstolos é que eles faziam coisas que as pessoas não conseguiam fazer. As pessoas que ungiam com óleo não conseguiam curar enfermidades graves. Esta é a grande diferença. Mas os apóstolos chegavam e de posse do óleo ungiam os doentes graves e ele se levantava. Porém todos sabiam que não tinha sido o óleo em si. Certamente os apóstolos viram pessoas ungidas com óleo, à beira da morte, mas ungiam novamente sendo elas curadas. A nosso ver o óleo só resolvia problemas muito simples. Imaginemos aquela época onde não se tinha nenhum recurso médico e pessoas que estavam doentes e morrendo de enfermidades variadas, mesmo sendo ungidas com óleo, pois era uma unção cultural. Porém, o mesmo óleo que era usado por qualquer pessoa, quando nas mãos dos apóstolos curava de fato. 

Se formos olhar o texto de Marcos 6:3 veremos o mesmo termo “terapia” usado para cura ordinária, cura do cotidiano e o verbo aleifw que é usado para essa unção medicinal. Esse é o grande mistério. Os apóstolos fizeram uma unção nos moldes “terapêuticos” mas na verdade não era terapêutico porque o mecanismo de ação do óleo não era medicinal no caso e não tinha condições de ser, pois muitos eram portadores de doenças graves, incuráveis. Tiago recomenda que se tome uma conduta cultural, medicinal, mas que sejam chamados os presbíteros. Por que? Não poderiam chamar um médico (alguém que fizesse tratamento medicinal na época) ou qualquer outro crente? Por que os presbíteros? Porque o ato é cultural, mas o fenômeno é espiritual. 

O óleo funcionou como uma credencial apostólica porque os apóstolos ungiam e curavam toda espécie de enfermidade. Eis o transbordamento do elemento cultural para o símbolo do que Calvino chama de sacramento. Não creio que seja bom usar este termo “sacramento” porque pode confundir-nos. O que Calvino estava fazendo era usar o termo “sacramental” para a época apostólica e não para os dias de hoje, pois é isso que a Igreja Romana faz. Essa é a principal razão porque o óleo aparece no cenário sem nenhuma menção prévia ou instituição por parte de Jesus. Não é estranho que um elemento ordenado à Igreja tenha surgido sem nenhuma instituição? O contrário se vê em Corinto, quando a igreja está cheia de normas, mas que são claramente ordenadas. No entanto Tiago estabelece uma ordem não instituída. Tiago está falando de uma prática comum. É como se ele dissesse: “Irmãos, se há alguém doente no meio de vós, então faça o que temos feito há muito tempo, faça unção com óleo”. Lembre-se que os apóstolos fizeram isso antes de Tiago (Mc 6:13). Mas eles fazem ali algo que não foi uma instituição nem um exemplo de Jesus. A única explicação para este elemento que entra como credencial apostólica é que ele foi usado pelos apóstolos para mostrar que aquela medida natural tomada costumeiramente pelas pessoas não funcionava, mas os apóstolos, como eram enviados de Deus, tinham poder de curar os enfermos em nome de Jesus (por isso a unção é em nome de Jesus) e faziam o óleo funcionar, pois os homens normais, sem credenciais apostólicas, não podiam fazer. O óleo funcionava com os apóstolos, mas não com os outros. Daí, o óleo tornar-se símbolo de cura. 

Em Atos dos Apóstolos também não aparece nenhum caso de unção com óleo. Mesmo em curas como em At 28:8 (quando Paulo cura o pai de Públio), não está presente o óleo como elemento crucial para a realização de curas miraculosas. Paulo ora, põe a mão sobre ele e o cura. O sinal não é o óleo e sim as mãos. Se o óleo fosse um elemento de extrema importância Jesus tinha dito: “Derramai óleo sobre os doentes”. Mas em lugar disso, Jesus manda colocar as mãos. 

Em Corinto (I Co 12:9), havia “dons” (o termo está no plural) de cura paralelamente às outras manifestações do Espírito Santo, mas nada é dito ali sobre o modo como operavam esses dons. Em nenhum lugar Paulo dá ordens para que se use o óleo nestas curas miraculosas. Parece que não era algo de tão elevada importância para o exercício dos dons de cura, mesmo tratando-se da era apostólica. 

Irineu (ii. 32. 4), (saindo da época apostólica) que afirmou ainda estar vivendo numa época em que poderes miraculosos ainda existiam e podiam ser testemunhados, nada fala sobre o uso do óleo nas curas miraculosas de seus dias, mas apenas da imposição das mãos sobre os enfermos. 

Orígenes (Hom. Ii em Levit. 4), comenta o texto de Tiago 5:14, mas trata apenas da questão do perdão dos pecados, nada mencionando sobre o uso do óleo. 

Agostinho (Civ. D. xxii. 8), na sua longa lista de milagres contemporâneos, somente menciona o óleo uma única vez. 

Tertuliano ( ad Scap. 4), diz Sétimo Severo, foi curado com óleo pelo cristão Prócolo. 

No Evangelho Apócrifo de Nicodemus, Sete pede por óleo da árvore da vida para curar seu pai Adão, mas recebe a resposta de que aquilo é impossível. 

Ireneu (i. 21. 5, cf. Agostinho, Haeres. 16, Epifânio Haeres. xxx. 2) afirmou que a seita gnóstica dos Heracleonitas e os Marcosianos ungiam os mortos com óleo e água para protegê-los dos maus espíritos que rodeavam a terra. 

Inferimos das palavras de Crisóstomo (Hom. 3 em Mt), o qual magnificava a santidade dos vasos da igreja, que o óleo para ungir os doentes deveria ser retirado das lâmpadas que alumiavam o templo, prática essa usada ainda hoje na Igreja Grega. Ainda Crisóstomo (Hom. Em Mart.) recomenda ungir um bêbado com óleo retirado da tumba dos mártires cristãos, como remédio para curar a bebedice. 

Os Nestorianos misturavam óleo e água com algumas relíquias de alguns santos; caso estas não fossem encontradas, usava-se poeira de uma cena de martírio e ungia-se o doente com tal mistura, (Neale, l.c. p. 1036, Greg. T. Mir. Mart. I. 2). 

Na verdade, durante os primeiros séculos da igreja parece não haver muita ênfase no óleo como tendo uma eficácia espiritual, como veio a ser concebido mais tarde. 

Entendemos com estes fatos que, pelo fato do óleo ter cessado sua eficácia como elemento efetivo na cura dos doentes, alguns se empenharam em acrescentar uma virtude ao óleo (isso acontece nos dias de hoje), ou por consagração especial, ou combinando-o com relíquias de santos martirizados, enquanto que outros, como os Heracleanos e a Igreja de Roma, em tempos posteriores, afirmaram que o óleo retinha uma eficácia espiritual a ponto de perdoar pecados. Não há nenhum registro durante os oito primeiros séculos da história da igreja, de exemplos do óleo com uma eficácia tão grande, podendo ser utilizado até para moribundos (Extrema Unção no século XII), exceto entre os Heracleanos. 

O mesmo uso terapêutico combinado com certos ritos religiosos continuou nos primeiros séculos da igreja, como também entre os hebreus, mas que deve ser cuidadosamente distinguido do verdadeiro simbolismo encontrado no Novo Testamento. Tiago fala que a “oração da fé salvará o enfermo”. Não há nada de óleo ungido ou consagrado. Os presbíteros usavam uma medida cultural terapêutica simples, mas curavam doenças graves. Aí está o extraordinário, a credencial apostólica; algo que ninguém fazia (com algumas raras exceções, sob a égide dos apóstolos), nem faz ainda hoje. Nunca os apóstolos tornaram o elemento em algo místico. Isto é antibíblico. 

A entrada da heresia quanto ao óleo foi sentida num período ainda cedo na igreja. 

Cirilo de Alexandria (De Adorat in spir. Et ver. Vi, p. 211) e Cesário de Arles alertavam o povo contra encantamentos e mágicas, usando exatamente o texto de Tiago 5:14 dizendo que o poder não vinha do óleo. Óleo é apenas sinal. Deduz-se, portanto que a Igreja já enfrentava problema com aqueles que queriam ver algo supersticioso no óleo. Alguns chamam a isso de superstição eclesiástica. 

A partir do quarto século em diante, a liturgia da igreja Grega e outras liturgias orientais já continham fórmulas para consagrar o “óleo santo”, do que um bom exemplo é O Sacramentário de São Serapião (quarto século, Egito). 

As formas latinas (igreja ocidental) eram da mesma natureza das gregas. Nesta época, o óleo consagrado por um bispo ou por um santo milagreiro era permitido ser administrado a qualquer pessoa sem distinção. A carta do Papa Inocêncio I para Decentius, datada de 19 de Março de 416 diz que “os cristãos doentes têm o direito de serem ungidos com o santo óleo da crisma, o qual, sendo consagrado pelo bispo, não é legal apenas para os bispos somente, mas para todos os cristãos que precisem dele para suas próprias necessidades, bem como para seus servos.” Já no século quinto se vê o óleo tendo o seu uso mistificado. 

Antes do fim do oitavo século, contudo, uma mudança ocorreu no Ocidente, pela qual o uso do óleo foi transformado para unção daqueles que estavam para morrer, não como um meio para recuperar o doente, mas com vistas à remissão dos pecados daquele que está morrendo. Não sabemos quanta influência do meio pagão forçou a igreja do ocidente à tamanha mudança. A Igreja já estava demonstrando toda sua corrupção doutrinária. 

Sentia-se que as observâncias religiosas tinham um propósito espiritual. Mas retendo-se o elemento físico e dando-lhe uma eficácia espiritual ex opere operato, acontecia assim uma intrusão do físico na esfera do religioso. Agora os cristãos que usam coisas ou substâncias para a fé, estão fazendo uso mágico destas substâncias. 

O sacramento da Extrema Unção é mencionado pela primeira vez entre os sete sacramentos da Igreja no século XII. Foi discutido e decretado no Concílio de Trento (na pós-Reforma), que “a santa unção do doente foi um sacramento estabelecido por Cristo e promulgado aos crentes por Tiago, apóstolo e irmão de nosso Senhor”. Os Católicos buscam o fundamento da extrema unção no texto de Tiago 5. 

O Concílio Vaticano II continua tratando a extrema-unção como um dos sete sacramentos, e que não deve ser ministrado somente aos que estão à beira da morte, mas aos que estão em perigo de vida, podendo morrer a qualquer hora. Aplicando para nossos dias, assim seria: alguém está com câncer, então deve ser ungido com óleo. Hoje os católicos ungem os que estão com doenças graves, mesmo que não estejam em estado final. É a extrema-unção sendo usada para os casos de perigo de morte. 

De qualquer maneira a história mostra a transformação de um costume popularmente praticado, puramente medicinal, para um ritual estritamente religioso, com regras fixas de administração. Saíram de algo cultural, jogaram um elemento religioso sobre o óleo e estabeleceram regras sacramentais para ministração deste óleo. 

CONCLUSÃO: 

Nossa conclusão dos fatos relatos aqui são as seguintes: 

1) Em todo o Novo Testamento não existe sequer uma referência ao “óleo ungido”, “óleo consagrado” em que se faz oração sobre ele para que passe a ter poder em si mesmo. O único óleo considerado santo e sacralizado é o óleo da unção sacerdotal, da unção de profetas e reis em Israel no Velho Testamento. Mas nada de óleo consagrado para cura. Essa linguagem é totalmente estranha ao Novo Testamento. Essa linguagem começou a surgir com a entrada do paganismo na igreja, a partir do quarto século, sem deixar de mencionar que durante os primeiros séculos da igreja sempre houve casos de superstições com o uso do óleo. A Igreja sempre conviveu com surtos de abordagem supersticiosa do uso do óleo. 

2) A igreja apostólica nunca reconheceu o uso da unção com óleo como uma fórmula que deveria fazer parte do culto ou da praxes pastoral. Mesmo durante uma era de grandes sinais e prodígios, Lucas não achou importante relatar casos de unção com óleo como um modelo de igreja madura que deveria ser seguido. Se a unção com óleo tivesse sido um modelo de liturgia, de doutrina para uma época de uma igreja madura, certamente seria tratado pelos autores do Novo Testamento e certamente teria sido praticado na igreja dentro de um contexto judaico-gentílico. Mas só vamos encontrar o uso do óleo num contexto puramente judaico. 

3) Em nenhum lugar no Novo Testamento é dada ao óleo uma natureza de eficácia espiritual, como querem muitos movimentos modernos de sinais e maravilhas, que nada mais é do que uma abordagem Romana da questão. O óleo sempre foi tratado como um símbolo, sem nenhuma eficácia espiritual, pois o poder da cura estava na oração, e não no óleo. Ou seja, os pais pós-apostólicos já combatiam este erro de “óleo consagrado” dizendo que a oração é sobre o enfermo e não sobre o óleo. O poder da cura não está no óleo e sim na oração. 

4) Todos os movimentos de sinais e maravilhas, bem como os crentes que de alguma forma estão envolvidos com a prática da unção com o “óleo ungido ou consagrado” deveriam estar cientes de que esta prática não foi apostólica, nem tampouco se encontra no Novo Testamento, mas consiste de uma prática intrusa do paganismo que entrou na Igreja, e foi uma prática iniciada pela igreja num período de trevas, a partir do qual chamou-se Igreja Católica Romana. Quando começamos a lembrar do período em que a Igreja começou a usar o óleo dos candeeiros porque eram “sagrados” vemos que era uma época em que a Igreja estava caminhando para um afastamento da tradição apostólica. 

5) Portanto, a prática da unção com o “óleo consagrado” é uma prática pagã, com suas raízes no gnosticismo (os gnósticos usavam o óleo de forma mágica) e religiões mágicas e de encantamentos, não devendo ser imitado pela verdadeira Igreja de Cristo em época alguma. Grosso modo, isto também seria seguir os caminhos de Roma. Que prática condenável é esta que estamos enfatizando? Colocar o poder mágico no óleo. Isso nada mais é do que colocar poder especial no óleo; essa é uma prática pagã. São práticas pagãs que se vê na Igreja Universal do Reino de Deus, como, rosa ungida contra o despacho de macumba (não é só o óleo), o copo com água, etc. É uma mistura da religiosidade popular pagã com a versão supostamente evangélica praticada pela Igreja Universal do Reino de Deus o que mostra ser esta uma igreja comprometida com o paganismo. O mesmo se aplica para o “óleo ungido de Israel” usado por muitas igrejas carismáticas. É uma prática que vem das religiões pagãs. Os apóstolos nunca utilizaram esta prática e se tivessem utilizado, em que o povo creria? Creria que o poder vinha do óleo e não dos apóstolos (Mas infelizmente é o que se vê hoje). Os olhares não convergiriam para Deus e sim para o elemento – o óleo; a fé não seria canalizada para Deus e sim para o objeto – o óleo. 

Os apóstolos nunca fizeram isto e sim tomaram uma medida cultural e mostraram que aquilo que os judeus da época não podiam fazer eles faziam, mas, não porque o poder estivesse no elemento em si mesmo mas em Deus. Os olhares deveriam convergir para o resultado que estava em Deus. Os apóstolos não poderiam fazer do óleo um elemento que tivesse poder, pois assim a glória seria do óleo. Sem a tradição apostólica alguém diria que aquele óleo teria poder. Este não é o modelo cristão de fé. 

A UNÇÃO COM ÓLEO NO NOVO TESTAMENTO 

O primeiro detalhe importante que precisamos deixar bem claro aqui é que há duas palavras para “unção” no Novo Testamento, e que ambas têm significados diferentes. Isto é muito importante para o nosso estudo, pois muita confusão tem sido feita em torno deste tema devido à falta de distinção dos significados destas palavras. Vejamos cada uma delas: 

O primeiro termo grego que vamos enfatizar é aleifw (ungir), que aparece 8 vezes em todo o Novo Testamento, [fazendo um contraste com criw (ungir)], e refere-se a uma atividade física de derramar óleo sobre alguém, relacionando-se sempre à unção de pessoas. O termo é usado exclusivamente para: embelezar (Mt 6:17), como sinal de honra a um hóspede (Lc 7:38, 46; Jo 11:2; 12:3); honrar os mortos (Mc 16:1); e curar os enfermos. O termo pode ter outros empregos remotos e particulares, mas os usos mais importantes na cultura judaica eram estes. Digamos que era uma unção que qualquer pessoa poderia fazer. 

O outro termo grego é criw (ungir), que aparece apenas 5 vezes no Novo Testamento, e que dá origem à palavra “crisma” (unção - só 3 vezes). Criw é um termo religioso e refere-se à unção religiosa. Diz respeito a uma comissão divina e sempre é símbolo do Espírito Santo. Se “crismava” um Rei porque o Rei governava como Deus queria, através do Seu Espírito; o mesmo se fazia para o profeta e sacerdote. Eles eram ungidos. O termo “crismar‘’ significa conferir o Espírito de Deus àquele que é crismado. Mas o que ocorre nos dias de hoje é tomar-se o significado de aleifw e transferi-lo para criw. Ou seja, sacralizam a unção não religiosa dando a idéia de que o sentido de aleifw está em criw; mas isso não pode ser. Quando vamos para Tiago 6:13, 5:14-15, encontramos exatamente aleifw. Jamais se usa criw para unção de enfermos. Isto, porque criw tem relação com o Espírito Santo, significa comissionamento divino. 

O emprego destas duas palavras no Novo Testamento corresponde ao mesmo uso na LXX (Septuaginta). A unção crisma (criw), designa uma metáfora para a outorga do Espírito Santo, de poder especial e de uma comissão divina. Este termo é o mesmo usado na LXX para unção de sacerdotes e de reis. Esta unção era vinculada com o dom do Espírito Santo e com a proteção especial de Javé. O ungido ficava em contato direto com Deus e era considerado inviolável. Usa-se muitas vezes esta expressão de ungido para o pastor (mas é apenas no sentido figurado de unção de I João 2:20,27), mas ele não foi ungido como o profeta ou sacerdote do VT. Na verdade, todos os crentes têm a “crisma”, porque agora João emprega “crisma” num sentido espiritual para dizer: “Vocês têm o Espírito de Deus, por isso estão aqui, pois conseguem discernir a verdade do erro e só conseguem fazer isto porque têm o Espírito Santo”. 

Em Isaías 61:1, a unção deve ser entendida como um revestimento carismático de autoridade, o que é aplicado a Jesus em Lc 4.18: “O Espírito Santo está sobre mim”. Jesus foi ungido neste sentido. A unção descrita por criw refere-se sempre a um derramamento especial do Espírito Santo para um ofício ou comissão dirigidos por Deus. Tudo isso não é o sentido de aleifw pois aleifw é cultural. Aqui é outro significado. É nesse sentido (criw) que deve sem entendida a unção de Jesus como sendo uma unção real e sacerdotal. Essa é a unção da qual fala João, que todos os crentes têm, pois ela está ligada à obra do Espírito Santo que faz os crentes lembrarem da verdade pregada por Jesus. É uma atividade do Espírito em fazer os crentes maduros suficientes para o discernimento entre a verdade e o erro. Portanto, “crisma” (criw) de João 2:20 e 27, é exatamente o discernimento dado pelo Espírito de Deus para que os homens conheçam e façam distinção entre a verdade e o erro. Este é o contexto desta passagem. 

IMPLICAÇÕES DE ALEIFW e CRIW PARA NOSSO ESTUDO: 

Quais as implicações destes dois termos gregos para nossa análise do tema? 
1) Temos dois termos gregos usados para um mesmo ato (unção), mas que são empregados para significados diferentes porque as idéias são diferentes. Enquanto aleifw é um termo comum que sempre se refere à práticas culturais como embelezamento, saudação, honra e curas de enfermidades, criw sempre refere-se ao aspecto religioso, à unção religiosa. No Novo Dicionário Teológico um dos comentaristas diz que a unção em Tiago (aleifw) depois tornou-se símbolo de exorcismo. Ele diz: “É possível que este termo tenha sido usado para exorcismo”. Mas não cita nenhuma fonte ou documento. Alguém poderia perguntar: “Mas aleifw também não funciona?” Sim, o sentido de aleifw, que tem o significado de algo que não é religioso, funcionará com uma abordagem religiosa, mas em si aleifw não é uma prática religiosa e sim uma prática comum dentro da própria cultura. 

2) Criw sempre se refere a alguma obra especial do Espírito Santo. Algumas vezes, na septuaginta, aleifw é usada como criw, mas nunca criw como aleifw, porque criw era coisa santa, representava o próprio Espírito comicionando. Aleifw refere-se sempre às questões corriqueiras do dia-a-dia de um judeu. 

3) Muitos têm interpretado a unção de Tiago 5:14 e Mc 6:13 como uma forma de unção especial do Espírito Santo, ou um derramamento especial de poder espiritual para realizar a cura, mas não é, pois em ambos os casos o verbo grego é aleifw e não criw. O termo não é de unção com o Espírito Santo. Mas no NT ninguém se atreve a usar o termo criw para uma pessoa que está doente, pois o sentido é outro. Este termo citado nos textos não é usado para derramamento de poder para realizar cura. Tentar levar um significado estranho às palavras do Novo Testamento é perverter o texto sagrado para o nosso próprio juízo. Quem escreveu os dois textos acima não usa criw porque não está se referindo a este sentido de unção para comissionamento, para receber Espírito Santo. 

4) É evidente que quando Marcos e Tiago fazem uso de aleifw, eles não pretendem falar de unção do Espírito Santo, pois usaram um termo muito comum na sua época que não tinha o mesmo significado de criw. Jamais um judeu usaria este termo criw e sim aleifw. Marcos 6:13 usa o termo eqerapeuon (“curavam” — em português, terapia), mostrando uma relação muito próxima entre unção e cura, entre unção e o uso terapêutico. Era uma medida terapêutica, mas fazendo-a funcionar divinamente. 

5) Portanto, os termos usados pelos escritores sagrados nos mostram que não havia algo mais do que um simbolismo cultural de cura na unção com óleo do Novo Testamento, termos estes que faziam parte da realidade judaica dos tempos de Marcos e de Tiago. 

O TEXTO DE TIAGO 5:14: O uso de euch em lugar de proseucomai 

O texto de Tiago 5:14 apresenta algumas curiosidades exegéticas que não podemos ignorar: 
1) A primeira delas é o fato de Tiago usar constantemente o termo proseucomai para “orar” (v.14), mas no verso 15, quando se refere à “oração da fé” emprega a palavra rara euch, que aparece, além da Epístola de Tiago, só duas vezes no Novo Testamento significando “voto”. Esta palavra nunca é usada para oração. É estranho e incomum o uso que Tiago faz desse termo, pois ele sempre se refere à oração pelo termo proseucomai. No v. 16 ele diz: “...orai uns pelos outros, para serdes curados”. Aqui Tiago também não usa proseucomai e sim euchomai. Esta palavra euch foi colocada “à dedo”, não foi colocada casualmente. Não pode ser acidental o fato de Tiago usar euch em um único lugar de sua epístola contra tantos outros casos onde escolheu usar proseucomai. A questão é saber porque Tiago usou a palavra para “voto” (euch) em lugar de “oração”. Um certo comentarista afirma que Tiago não estava pensando em uma oração comum, pois se assim fosse teria usado o termo proseucomai, mas aí não há uma idéia de oração comum. Todos os autores chegam a conclusão de que a oração de Tiago (“oração da fé”) não é qualquer oração que fazemos como: “Senhor, tem misericórdia, cura fulano!”. A diferença está exatamente aí, pois para isso ele usa sempre proseucomai, mas quando chega na “oração da fé” ele usa euch que não é oração e sim um “voto”. A tradução seria: voto da fé. O sentido desta palavra é fazer uma declaração de plena confiança - eucomai. Não haveria nenhum problema se esta palavra fosse abundantemente encontrada no Novo Testamento significando oração, mas não há. Mas esse significado somente é atribuído à Tiago. Nas outras duas passagens onde ocorre euch (At 18:18; 21:23), o significado é de um voto. 

Muitos tradutores têm traduzido euch por oração, creio que isso se dá devido às idéias sobre oração e o uso constante de proseucomai. A idéia de que Tiago não estava falando da “oração da fé”, e sim de “voto da fé”, é o fato de que foi buscar uma palavra muito rara e distinta de oração, com o objetivo de trazer algo novo para seus leitores. Certamente, pois todo tempo, na epístola, ele sabe muito bem qual a palavra adequada para oração, mas quando chega na expressão “oração da fé” ele muda o vocabulário para uma palavra que só aparece três vezes no NT e que não significa oração. Seria absurdo imaginar que, depois de usar tantas vezes o termo “oração”, anterior e posterior à euch, Tiago tenha escolhido uma palavra errada exatamente para descrever “a oração da fé”, no verso 15. Ele vai explicar isso de “voto da fé” na oração de Elias, mais adiante. A ênfase no uso das duas palavras num mesmo contexto é distinta. 

A passagem inteira de 13-18 refere-se à oração, e a verdade central sobre a oração é uma deliberada e pacífica aceitação da vontade de Deus. Quando Tiago fala na “oração da fé” ele parece, intencionalmente, dirigir nosso olhar não para o coração dos presbíteros que oram, mas para o resultado que esse tipo de oração produz. Em outras palavras, ele parece falar de fé, não como um compromisso com a vontade de Deus, mas como uma convicção de que é a vontade de Deus realizar aquela cura. A grande maioria dos teólogos dizem que euch refere-se à certeza que se tinha de que o doente ficaria curado (não foi usada a palavra proseuch). Euch é uma convicção exata, clara de que o doente será curado. Por isso, no v. 16 ele diz que eles orem uns pelos outros para que sejam curados. O verbo usado é eucomai e não proseucomai. É uma oração de certeza; certeza de que o que foi afirmado, acontecerá. Aquela “oração da fé”, em Tiago, não é qualquer oração. Por isso vemos tanta certeza em Tiago. Ele diz que a oração dos presbíteros (“oração da fé”) salvará o doente. Ele não diz que esta oração é um “empurrãozinho” ou que orem muito, sem parar, porque o justo muito pode em suas súplicas. Não é por muito suplicar, como muitos pensam, que o justo pode, mas é uma situação apresentada mais adiante na vida de Elias que orou, suplicou por chuva e Deus mandou chuva. Qual foi a oração de Elias? Ele orou por algo que Deus havia dito que aconteceria (I Reis 18:1). Elias não orou suplicando para que Deus visse a necessidade do povo ou que seria bom para a terra; não, a oração de Elias é revelacional, pois primeiro Deus lhe comunica que vai chover, então, Elias ora. Esse é o tipo de oração que está na mente de Tiago aqui. Por isso ele diz que a oração dos presbíteros salvará o enfermo; algo revelacional existia. Os defensores do Movimento de Sinais e Maravilhas desejam o mesmo e assim decretam cura. O modelo é bíblico, mas não funciona. Por que? Porque não estamos na era apostólica, a eles não lhes é nada revelado. 

Aquela cura em Tiago não era uma mera solicitação a Deus, arriscando ou desconfiando se Deus vai responder. Ao contrário, ele diz que a “oração da fé salvará” o doente. Hoje quando oramos temos a certeza que Deus salvará? Que nossa oração por cura não falha em nenhuma oportunidade? A oração dos presbíteros, na época apostólica, era um voto a Deus, era feita em profunda confiança, em certeza absoluta. A certeza absoluta só vinha com Deus revelando que iria curar. A “oração da fé” (euch thV pistewV) é a convicção de que aquela é a vontade de Deus para o enfermo. Ainda no verso 16, Tiago emprega o verbo eucesqe (eucomai na sua forma imperativa – “orai”) que ocorre apenas 6 vezes no Novo Testamento e sempre se refere uma oração-voto. Em III João 2 temos o mesmo verbo: “Amado, acima de tudo faço votos (ou “oro” – eucomai) por tua prosperidade e saúde...”. A idéia é de uma certeza absoluta. Em todas as vezes que aparece este verbo eucesqe (6 vezes) vemos que é usado em orações de certeza (por exemplo: Atos 27:29). A idéia é de uma certeza indiscutível. Calvino e a maioria dos teólogos Reformados (comentários críticos) convergem todos para o mesmo ponto sobre esta palavra: eucomai. Jesus disse: “Se vocês orarem crendo que receberão, serão atendidos”. Então, o apóstolo faz referência à oração de Elias para exemplificar o modelo da oração da fé: aquela que tem sua origem em Deus. A oração de Elias, antes de ter sido proferida, foi dada pelo Espírito Santo. Este fato revelou-lhe a vontade de Deus, e assim tornou-o ousado em pedir a coisa desejada. Manifestamente, este tipo de oração pela cura, ou seja, a oração dada por Deus é que produz a recuperação dos enfermos. (CURA MIRACULOSA, Henry Frost, Editora PES, p. 61). 

O CONTEXTO DE TIAGO 5:14 

A epístola de Tiago possui traços bem judaicos, apesar de ser um documento genuinamente cristão. A sua autoria é Tiago irmão de Jesus. Tiago morreu no ano 62. Sua epístola é tida como escrita por volta da segunda metade do primeiro século da era cristã. 

Tiago endereça a sua epístola “às doze tribos que se encontram na Dispersão” (Tiago 1:1). Isto pode ser uma referência normal aos judeus cristãos dispersos por todo império Romano. 

O uso do termo “sinagoga” em Tiago 2:2 reflete uma época ainda bem primitiva do cristianismo. 

A Epístola de Tiago tem características bem distintas das outras. Ela é praticamente, uma parênese, consistindo numa interpretação visível da religião cristã. Tiago não apresenta temas doutrinariamente relacionados com o mistério revelado no evangelho como Paulo faz. Ele apenas cita o nome de Jesus duas vezes em toda a sua epístola (1:1; 2:1). “É, por conseguinte, uma revelação primária, parcial e intermediária entre a igreja cristã primitiva, na qual as condições judaicas prevaleciam, e a igreja cristã posterior, onde as condições gentílicas prevaleciam” (Henry Frost). Lutero rejeitou esta carta (erradamente) por falar só sobre obras e Lei e ser “muito judaica”. Mas essa época é o início da Igreja e os primeiros cristãos eram judeus. É possível que esse seja o contexto em que o óleo é usado entre judeus. 

Implicações teológicas do contexto: 

1) O texto de Tiago 5:14 faz referência à “presbíteros”, que eram, geralmente, homens maduros e experimentados na liderança da igreja, e oficialmente designados pela mesma. Devemos salientar também que não há nenhum caso ou ordem no Novo Testamento de uso da unção ministrada por qualquer crente. Não há nada nas Escrituras como “ungi-vos mutuamente!”, mas “orai uns pelos outros para serdes curados”. Tiago, neste texto, manda chamar os presbíteros para orarem e ungirem com óleo. Em Mc 6:13 trata-se de credencias apostólicas, e Tiago, pelo fato de sua epístola ainda estar mais perto da era apostólica, reflete um caráter todo especial de um dom, numa época em que a revelação de Deus ainda continuava sendo autenticada por sinais. Mesmo em Tiago 5:17, a idéia de “orai uns pelos outros para serdes curados” não implica necessariamente em unção, pois Tiago já definiu anteriormente o uso do óleo. Tiago não está dizendo para que os irmãos ungissem uns aos outros. A idéia aqui é genérica e refere-se ao que ele já definiu como oração pela cura. 

2) O uso do óleo não teria apenas uma intenção medicinal em si mesmo, mas o ato representava a cura, pelo fato da oração fazer um ato natural funcionar numa enfermidade que jamais seria curada por uma simples unção com óleo. Devemos acrescentar ainda que se a intenção fosse apenas terapêutica, eles deveriam chamar os médicos e não os presbíteros. Além do mais, se fosse o óleo que curasse, qualquer pessoa poderia ungir. Mas Paulo diz que os presbíteros deveriam ser chamados. Deveria haver um poder espiritual. 

3) O tipo de enfermidade não era do tipo “dor de cabeça” ou “dor de dente”, mas o texto faz referência a um certa impossibilidade do enfermo ir até aos presbíteros, dando a entender que são os presbíteros que têm de vir ao enfermo. Havia um ato domiciliar. O verbo grego usado para essa enfermidade nos dirige para uma doença grave. Isso somente ocorreria devido ao fato de uma enfermidade gravíssima que o impossibilitasse de procurar os presbíteros. O texto diz que os presbíteros deveriam ser chamados e não que o doente fosse a eles (completamente diferente de hoje onde as pessoas são incitadas a buscar certas igrejas). Além disso, se Tiago não estivesse tratando de enfermidade grave e incurável, não seria preciso chamar os presbíteros, mas sim os médicos. Não era um qualquer “sujar com óleo”, mas uma medida séria que deveria ser tomada: chamar os presbíteros para fazer uma oração porque o medicamento usado não curava. Em todo o Novo Testamento não há sequer uma passagem que nos mostre Jesus e os apóstolos curando doenças simples com óleo. Parece-nos que o óleo sempre foi uma medida muito séria para casos muito sérios. O óleo sinalizava os poderes do céu (do Espírito Santo) contra aquelas doenças graves e não contra doenças banais; confrontava-se com a falência humana. 

4) O ministério da oração com unção e cura está associado ao ministério privado da igreja. Quando Tiago diz “chamem os presbíteros da igreja”, ele não está pensando mais em ministério intinerante ou público para o uso do óleo, nem em movimentos para-eclesiásticos de unção com óleo. Mesmo que alguém use o texto de Marcos 6:13 para reivindicar um ministério público do uso do óleo, deveria perceber que na época de Tiago a Igreja já existia em forma organizacional (já existiam os presbíteros), e que o conselho de Tiago dirige-se ao corpo organizacional da igreja, pois já desde aquela época toda a revelação está sendo dirigida às igrejas domesticamente organizadas e localizadas em todo o império Romano. Isto era comum na sua época, além do fato de ele usar a expressão “está alguém doente entre vós?”, que é uma clara referência a um grupo, à Igreja. 

5) A ênfase de Tiago não está na unção, nem no perdão dos pecados. (Este é um argumento forte contra o pensamento Romano de perdão de pecados). Ambos são incidentais quanto ao tema oração. O óleo é citado como uma medida natural e cultural que funcionará através de um poder sobrenatural, o da oração, ferindo a mente incrédula que estava acostumada a não realizar curas daquele porte com uma simples unção de óleo. Mesmo tratando-se doenças incuráveis com o uso comum do óleo, a “oração da fé” faria com que um simples derramar desta substância curasse enfermidades graves. O perigo de mistificar o óleo é tão grande, a partir deste texto, que podemos comprovar nos dias da igreja pós-apostólica e nos nossos dias, quando muitos têm usado o óleo até mesmo como relíquias. Mas a prova de que Tiago não está querendo ensinar algo sobre óleo é que ele afirma que “a oração da fé salvará o enfermo”, e não o óleo. Hoje se faz uma teologia tão “profunda” do óleo que Tiago nem “alcançaria”. Hoje, Tiago talvez dissesse: “Parem! A oração da fé salvará! Saiam do óleo e vão para a oração!”. Tiago não nos deixa ficar com os olhos fitos no óleo. Por isso que Orígenes usou este texto de Tiago para falar contra a mistificação do uso do óleo, quando hoje é exatamente o contrário. Sendo assim, o óleo equivale a medidas naturais e culturais paralelas como a saliva que foi usada para a cura do cego (Jo 9:6-7); impor as mãos (At 28:8); ordenar uma palavra (At 9:40); abraçar (At 20:9-10); colocar os dedos nos ouvidos e tocar a língua (Mc 7:31-35). 

O sinal do óleo, como qualquer outro sinal externo usado na cura, representa a emissão de poder por parte daquele que emprega o sinal. Hoje se quer dar poder ao óleo, mas o óleo é que está dizendo que quem o usa é que tem poder (que lhe é dado). Perguntamos: Você tem coragem de usar o óleo como os apóstolos e os presbíteros usaram na época apostólica? É uma grande responsabilidade, tanto é que a palavra é euch e não proseucomai. Quando eles usavam o óleo, aquele elemento estava dizendo para todos que havia cura à vista, que agora haveria manifestação de poder daquele que estava usando-o. O óleo não tem poder e sim que é um sinal, que significa que haverá cura. Era a “oração da fé salvará” que salvaria; não havia meio termo. O óleo está intimamente relacionado com a oração dos presbíteros. Vamos trabalhar essa questão mais adiante. 

Quanto à referência ao pecado, o texto é claro em empregar uma partícula condicional: “se houver cometido pecado”. Ele não quer falar sobre o pecado, o que indica que a ênfase ao perdão é mínima, pois toda ênfase do texto é na oração. Mas Tiago sabe que algumas enfermidades vêm como fruto de algum pecado. Ele diz que se alguém, que vai ser curado, tiver pecado, deve confessa-los e Deus perdoará. Os pecados tinham de ser perdoados. Não havia a prática de chamar as multidões para curá-las como se faz hoje. Lembramos que não era para a multidão e sim (“se há entre vós”) para os crentes, pois não há unção para descrentes. Com os apóstolos curas ocorreram entre as multidões por causa das credenciais apostólicas e o mundo inteiro estava testificando que aqueles homens realmente eram de Deus e estava se estabelecendo a inauguração da nova aliança. Mas agora, na Igreja estabelecida, é entre “vós” e os presbíteros e não para todos os que passavam “lá fora” que deveriam ser ungidos. O que cometia pecado e estava doente deveria ser resolvido o seu problema de pecado. Era o princípio de Levítico 6. 

6) Nada há explícito no texto de que o doente deverá orar para ser curado. Aqui, cai por terra a idéia de que devemos orar pelos doentes e se eles tiverem fé ficarão curados. O texto afirma que a oração é dos presbíteros (que salvará) e não do enfermo. São os presbíteros que oram sobre o enfermo (ep auton), e não o enfermo sobre ele mesmo, exceto os casos em que a doença foi causada por pecado, mas ainda assim, o doente orará apenas confessando seus pecados e não para ser curado. 

7) O texto aplica-se a casos raros de enfermidade que podem acontecer na igreja. Não há nenhuma indicação no texto nem no Novo Testamento de uma ordem ou mandamento para a igreja desenvolver um programa litúrgico, público e sistemático da unção com óleo. A maneira com a qual Tiago trata a questão dos enfermos demonstra que as medidas deveriam ser tomadas apenas quando houvesse enfermos entre os crentes: “está alguém entre vós doente?”. A unção não era usada todos os dias, mas em caso de doenças graves.

8) A unção com óleo não foi uma instituição feita por Jesus, sendo um elemento encontrado na própria cultura judaica, e naturalmente útil para confirmar, sobrenaturalmente, as credenciais dos enviados de Deus. Também não podemos imaginar que os apóstolos realizaram-na contra a vontade de Jesus. Os apóstolos encontraram este elemento cultural, pois já era símbolo de cura em Israel porque curava enfermidades pequenas e quando estes apóstolos usaram o óleo e realizaram com ele curas de doenças incuráveis, isto se tornou uma credencial de um simbolismo de cura divina. 

9) A época em que Tiago está escrevendo é uma época em que a revelação profética ainda está caminhando para sua perfeição. A igreja ainda está convivendo com profetas e apóstolos. As verdades reveladas estavam sendo confirmadas através de sinais. Ninguém poderia afirmar estar curando um enfermo “em nome de Jesus” e falhar nessa cura. Isto indicaria, no contexto, total perda de credibilidade em Jesus, na nova aliança (para os judeus), e conseqüentemente, descredenciamento profético e miraculoso do cristianismo apostólico. Não há nenhum caso em que uma cura realizada pelos apóstolos tenha falhado. Isto implicaria na falha da própria revelação e do Cristo que estava sendo anunciado. O único momento em que houve um falha dessa foi o caso dos discípulos que não conseguiram expulsar um demônio de um jovem (Mt 17:14-21), mas isto foi totalmente irrelevante porque Jesus estava presente, e portanto não deixou que seu nome fosse envergonhado, como exclamou o pai do jovem: “Apresentei-o a teus discípulos, mas eles não puderam curá-lo.” Assim como Jesus, Tiago também não admitia falha na oração da fé. Ele não afirma que talvez a oração da fé salvasse o enfermo. Nada disso! Tão certo como Elias orou, a oração da fé curava. Mas hoje vemos falsos profetas derramarem óleo na cabeça de muitos doentes e não acontecer nada. Esse não é o procedimento que Tiago aponta, pois ele demonstra que a unção é o sinal do que realmente vai acontecer. Se você unge e nada acontece, esta unção está indicando seu fracasso total. Se ele sinaliza a cura, onde está essa cura? Se não há, que sinal é este? Se o sinal sinaliza a cura e ela não acontece, será este sinal, uma testemunha contra você. É o mesmo que acontece com o batismo. Quando somos batizados diante da igreja e do mundo, este batismo é uma testemunha contra nós mesmos caso não vivamos uma vida de santidade, por ser um sinal de algo que aconteceu conosco. 

10) O uso do óleo sem a certeza de que Deus levantará o enfermo, torna o óleo um símbolo de fracasso da oração da fé e ao mesmo tempo profana o nome de Jesus, pois a unção é feita “em nome de Jesus” (Calvino dizia que se usarmos um elemento em nome de Jesus vamos, em muito, “expor” o Seu nome, porque o elemento vai dizer: Este elemento representa o nome de Jesus e não funciona). Isto não poderia acontecer na era apostólica. O sinal do óleo em um enfermo não curado representa um uso para o qual Tiago não estabeleceu em sua epístola. O óleo somente deverá ser aplicado relacionado à eficácia da oração, pois ele é um sinal. Mas se não houver cura alguma, o que então representará o óleo? A resposta é: apenas sinalizará fracasso e desonra do nome de Jesus. A unção foi ordenada para representar a eficácia da oração e do nome de Jesus, e não o contrário. Se, em sua época, Tiago estivesse pensando em um arriscado uso do óleo, podendo este funcionar ou não, ele certamente estaria condenando a revelação de Deus a uma falácia cheia de enganos e desacreditando o nome de Jesus. 

11) A invocação do nome de Jesus no batismo e nos ritos de cura e exorcismo era muito comum na igreja primitiva. Esta prática indicava que ao invocar o nome de Jesus, a pessoa estava agindo como um representante de Deus exercendo o poder de Deus. Quando hoje alguém ora para expulsar demônios em nome de Jesus ou para curar uma enfermidade e não consegue, no máximo seria falta de fé, mas na época apostólica seria motivo de total descrédito. Esse tal seria chamado de falso profeta e extirpado do meio da Igreja. O nome de Jesus representa o Seu próprio poder operando. Por isso, quando não se opera o milagre em nome de Jesus, Seu nome é profanado. É o que Calvino diz. As pessoas não atentam para isso, infelizmente. 

A QUESTÃO DA FUNÇÃO SACRAMENTAL DO ÓLEO 

Tanto Marcos 6:13 quanto Tiago 5:14 definem o uso do óleo como sinal de eficácia do nome de Jesus. Em nenhum destes textos há a sugestão de se usar o óleo sem eficácia de cura. Por que? Se usarmos o óleo sem representar a eficácia da cura o que representará? Sem dúvida vai representar alguma coisa. Mas o que? Representa, nesse caso, um amuleto. Se a pessoa que usa o óleo sem certeza da cura, estará usando o óleo com o propósito de “ajudar”. Há sentido em se usar um sinal para uma coisa que não existe? O óleo sinalizaria algo que não existe? Parece ser um uso totalmente inócuo sua administração naqueles que não são curados, a não ser que se creia que ele tenha algum poder ou virtude em si mesmo para curar. Este é o ponto chave do assunto. Se ele representa a cura, perguntamos: onde está a cura? Se não existe, por que se usar um sinal para algo que não existe? Então estaremos usando o óleo pensando que ele vai “tornar possível”, que vai ajudar naquilo para o qual está sendo usado. Se você tem certeza (recebeu uma revelação – e isso não acontece mais) de que a cura acontecerá, sinalize com o óleo. Na cultura judaica o óleo era usado como um elemento terapêutico, em coisas simples, mas só os apóstolos faziam com que ele “funcionasse” para sarar doenças incuráveis; que ele “realizasse” milagres. Os presbíteros fizeram isso na época apostólica e o doente levantava do seu leito. Aí o óleo era o sinal da cura. Mas a cura vem de cima, de Deus, e o elemento, o óleo, era o sinal de que Deus cura. A mesma coisa os apóstolos fizeram. Ao colocar as mãos sobre o enfermo eles sinalizavam que o poder vinha de Deus através deles. Quando Jesus fez o “lodinho” e colocou nos olhos do cego era para mostrar o Seu poder e não que viesse do lodo. 

A questão que deverá ser levantada é: É permitido o uso do óleo sem alguma garantia da cura? A resposta é: Não! Eis as razões: 

1) O uso do óleo sem perspectiva de eficácia era feito por religiões pagãs paralelas à época do Cristianismo e entrou na igreja cristã já nós primeiros séculos da igreja. Óleo sem perspectiva de eficácia o que é? Nada! A não ser que se ache que o óleo tem virtude nele mesmo. Neste caso não é mais sinal. 

2) Não há no Novo Testamento o uso do sinal sem perspectiva da cura. A maioria dos comentaristas do N.T. entendem dessa maneira. Calvino pensava assim. Usá-lo sem perspectiva de cura é profanar o nome de Jesus; é dizer que é um sacramento quando não o é. 

3) Teologicamente inferimos que, se alguém usa o óleo para representar algo que de fato não existe, então seu uso, logicamente, estará sendo direcionado para um significado de eficácia no próprio elemento. Daí surgem as superstições eclesiásticas quanto ao uso do óleo. 

4) A não ser que tiremos o significado de “sinal da cura”, seria absurdo administrar o sinal de uma irrealidade. Se perguntarmos para alguém: Por que você usou o óleo? Ela será obrigada a dar uma das duas respostas: “Porque é um sinal!”, ou “Porque ele tem virtude em si mesmo!” Se alguém responde que é sinal, devo perguntar: Onde está, pois a realidade que o sinal sinaliza? Se não há a realidade sinalizada, por que se usou um simbolismo para algo que não existe? Talvez a pessoa respondesse: “Eu esperava que houvesse a realidade!”. Mas usar o símbolo para algo que ainda vai existir ou poderá existir é uma contradição, ou seja, como pode existir sinal sem o seu conteúdo? Este é o argumento de Calvino. Calvino dizia que nós não podermos usar isso porque a coisa realizada já cessou. A realidade indicada pelo sinal já cessou. Calvino era cessacionista. É como imaginar uma bandeira que represente uma nação que não existe mais no planeta. Diante de outras nações essa bandeira não terá nenhum valor simbólico, pois a realidade a qual ela representa não existe mais. Mas se queimamos uma bandeira de uma nação estamos ferindo a realidade simbolizada por ela. Não existe símbolo sem uma realidade por trás. 

5) O mesmo se diz dos sacramentos, que além de selos, são também sinais (“santos sinais”— Confissão de Fé de Westminster) que não podem ser administrados à indivíduos nos quais não podem sinalizar a realidade que significam. Alguns podem utilizar este meu argumento para justificar o uso do sinal sem a realidade sinalizada, quando batizamos e ministramos ceia aos que de fato não convivem com a realidade significada pelos sacramentos; assim o mesmo poderia ocorrer com o óleo. O pastor sabe quem de fato é crente ou não? Não! A pessoa pode não ser convertida (falso crente) e é ministrada a ela o sacramento. A isso, alguém pode argumentar: já que você ministra o sacramento a esta pessoa sinalizando o que não existe na vida daquela pessoa, eu poderia usar o óleo também. A isto respondo que este argumento não é convincente pelo fato dos sacramentos sinalizarem coisas espirituais (a cura não, pois é algo visível e evidente), que é quase que totalmente impossível constatar a realidade sinalizada nos sacramentos. Quanto ao óleo é diferente, pois a cura é uma realidade visível e pode ser constata tanto pelo ministrante quanto pelo enfermo. Além do mais, as pessoas podem profanar os sacramentos, abandonando o evangelho e negando a Cristo, fazendo do sinal do sacramento “uma irrealidade”. A realidade significada pelos sacramentos é interna, imperceptível. Os mesmos são ordenados aos que crêem (também interior e impossível de se averiguar), e não foi dado como sinal visível à coletividade, mas como sinal privado, entre o crente e Deus. Administramos os sacramentos como “santos sinais” confiando apenas na profissão de fé daquele que pede tais sinais, pois assim nos ordena a Palavra de Deus. Mesmo administrando aos quais não temos certeza da realidade significada em suas vidas, isto não nos desautoriza a sua administração, pelo fato da realidade significada pelos sacramentos não poder ser averiguada como podemos averiguar a cura. O sinal do sacramento é diferente do sinal da cura (do óleo) porque o sinal do sacramento é um sinal entre você e Deus e também entre você e a Igreja, pois ela é uma testemunha, mas é um sinal que indica uma realidade que ninguém pode averiguar seguramente. Por isso não temos como ter certeza de ministrar somente aos convertidos. Mas a unção com óleo tinha, pois os presbíteros recebiam revelação de que haveria cura naquela pessoa. A natureza dessa realidade são profundamente distintas. Mas mesmo assim, os sacramentos nunca poderão ser administrados aos que não professarem a fé naquilo que eles significam. 

PODE O ÓLEO OCUPAR UM LUGAR SACRAMENTAL NA IGREJA DE CRISTO?

Como já dissemos anteriormente, a unção com óleo não é um sacramento, como quer a Igreja Católica Romana. Sabe por que a extrema-unção é um sacramento na Igreja Católica? Porque se a Igreja Romana não fizesse da unção com óleo um sacramento ela não teria como transpor as barreiras culturais desta unção com óleo. Ela tornou este ato um sacramento para que ele pudesse subsistir em todas as nações. Não foi instituído como tal por Cristo, nem reconhecido pelos apóstolos. Uma pergunta importante deve ser feita a esta altura: 

O que faz o óleo ser um elemento observado por todas as culturas, se o mesmo consiste de simbolismo terapêutico de uma cultura primitiva? 

Essa pergunta é realmente importante, pois nos faz questionar sobre alguns princípios básicos para a vida da igreja quanto à unção com óleo: 

1) Nenhum comentarista reformado entende algo além de um simbolismo na unção com óleo. Só o catolicismo e os movimentos de sinais e maravilhas vêem, de maneira antibíblica algo mais naquele ato. Os reformados sabem que o caminho não é este porque não é o caminho bíblico. 

2) Esse simbolismo nasceu numa cultura primitiva que usava o óleo para funções de cura, o que ainda na era apostólica tornou-se um símbolo da operação sobrenatural de Deus. O simbolismo da cura era espiritual, pois o óleo não tinha poder algum. O poder vinha do alto. Antes de ser usado pelos apóstolos, o óleo já representava cura, ele apenas ganhou um significado de cura divina porque os apóstolos usaram-no para curar enfermidades tais que o óleo não pode curar. Então o elemento tornou-se símbolo de fé porque o povo de Deus, naquela época, quando fazia uso do óleo afirmava: “Haverá cura”. Presbítero passando com vidro de óleo na mão era evidência de que haveria cura divina. Essa é a compreensão que nos leva a entender que qualquer elemento que sinalizasse a operação divina era usado no Novo Testamento. 

3) Se o óleo representava a cura, então ele é um simbolismo cultural que corresponde a qualquer elemento simbólico cultural de qualquer outra nação. Se em Israel o óleo representa a cura, em outra nação a cura pode ser representada por uma comida, uma veste, ou qualquer outro elemento cultural que de fato represente uma forma de curar ou total ou parcialmente os enfermos. 

4) O elemento fixo no mandamento de Tiago não é a unção, mas a oração (este foi o elemento fixo que a Igreja observou durante todas as épocas e não a unção com óleo; eles curavam com qualquer coisa como: as mãos, com a palavra, deitando por cima, com a própria sombra...), pois se a unção com óleo fosse um elemento fixo para a fórmula da cura, ela teria funções sacramentais, e deveria ser observado pela igreja apostólica e pelos cristãos de todas as épocas (seria o método pelo qual as pessoas seriam curadas). Contudo, a igreja do Novo Testamento parece não dar muita atenção a esse ato, pelo fato deste não ter sido continuado nem ensinado nas outras epístolas. 

5) Se a unção com óleo é algo simbólico não sacramental, então só pode ser simbólico-cultural. É sacramento? Não! Então é cultural. É o mandamento divino que está sendo ordenado à Igreja? Depende, porque a ênfase de Tiago não é ordenar à Igreja algo que não é um sacramento. Alguns comentaristas acham que Tiago está dando uma orientação no que já se fazia na época; não está dando uma revelação do elemento do óleo, mas sim uma orientação do que os apóstolos estariam fazendo desde a época de Jesus. Se for simbólico-cultural, não pode, obrigatoriamente, transpor as barreiras culturais de outras nações onde o símbolo da cura seja outra figura ou outro elemento empregados. 

6) Para vencer essa barreira cultural, a Igreja Católica Romana instituiu o ato da unção com óleo como um sacramento entre os demais, recorrendo aos textos de Mc 6:13 e Tg 5:14. Esta seria a única maneira de fazer com que um elemento cultural fosse obrigatório como um princípio eterno da vontade de Deus para a vida da Sua igreja. Alguém poderia argumentar: Mas não está registrado na epístola? Resposta: 

7) Ninguém insiste em que as ordens de Paulo quanto ao do ósculo para a igreja de sua época fosse para nós também. O princípio é que deve estar por trás, mas não obrigatoriamente os elementos culturais. Porque se fosse ordenada a unção seria um sacramento. Mas a Igreja não levou em conta isso. Quão estranho é que haja militantes em prol de uma sacramentalização de um elemento tão cultural como foi a unção com óleo na época de Tiago. O uso do óleo aconselhado por Tiago tem o mesmo valor dos conselhos que Paulo dava quanto ao ósculo. Estes elementos, para serem obrigatórios para a Igreja de Cristo deveriam ser ou sacramentos ou princípios espirituais da Lei de Deus. Mas a verdade é que nem óleo, nem ósculo constituem sacramentos ou princípios eternos da Palavra de Deus. Onde encontramos na Bíblia que óleo cura? Onde vemos que esta prática seja obrigatória partindo das Escrituras? Se fosse assim, os apóstolos teriam errado redondamente, pois não se vê seu uso nas epístolas e sim a oração. 

8) Podemos observar, durante o nosso estudo, que a prática da unção com óleo é uma prática caracteristicamente judaica (o próprio Tiago reflete uma mentalidade judaica da época) e que com a expansão do Cristianismo para o mundo helênico, parece não ter havido mais ênfase no sinal judaico da cura. 

Um certo comentarista levanta uma questão interessante. Ele afirma: “Perceba que a unção com óleo diz respeito a uma época em que a Igreja é caracteristicamente judaica. Quando a Igreja torna-se gentílica este elemento parece que não tem mais prática na Igreja”. Porque entre os judeus a prática do óleo era comum, mas entre os gentios não, pois eles usavam muitas coisas (até sangue), pois eram pagãos. Quando chegou a época de “juntar” todos debaixo de uma mesma Igreja, seria certo se usar um sinal judaico para sinalizar o fato? Muitas coisas foram usadas, mas este sinal não foi mais usado pela Igreja. 

CONCLUSÃO 

A CERTEZA DE TIAGO QUANTO À ORAÇÃO DA FÉ 

Nos dias atuais podemos perceber muita gente interessada em unção com óleo. Além das novas seitas caracteristicamente pagãs e animistas, que fazem uso, não somente do óleo, mas de toda sorte de amuletos e relíquias, imitando o Catolicismo, o Espiritismo e o Baixo Espiritismo, temos muitos crentes em nossas Igrejas que defendem, ingenuamente o uso da unção com óleo, sem todavia observar os princípios bíblicos de Tiago. 

Creio que o maior erro cometido por aqueles que fazem uso da unção com óleo é o de ungir os doentes sem a certeza de eles ficarão curados. E para isso é necessária uma revelação extraordinária, coisa que já cessou. 

Se o óleo é usado sem nenhuma certeza da cura, então basta a oração sem fé. Não seria demais além da oração sem fé, também a unção sem fé? Se não há certeza, basta orar, porque se vamos usar o óleo sem certeza, este elemento que não sinaliza, não é mais sinal de cura e sim algo que vai “ajudar” na oração. Este é o raciocínio em que vamos cair. Não seria demais, além da oração sem fé, também a unção sem fé? 

Se a unção é usada, se esperando que possa vir surtir algum resultado, então esse é o uso indevido da unção, que vai cair em outro erro que é o de achar que o óleo vai ajudar na cura. Se não estamos usando o óleo para sinalizar o que de fato existe, perguntamos: para que o estamos usando? Seria para ajudar na cura? Infelizmente, a maioria dos “ungidores” modernos caem neste erro. Por esta razão podemos ver muita gente trazendo óleo de Israel, levando óleo da igreja para casa, e até mesmo andando com um vidrinho de óleo no bolso. 

Tiago não diz que a oração e a unção são um “reforço”, ou uma ajuda, ou que “pode vir” a ajudar o enfermo. Ele também não deixou nenhuma dúvida quanto à eficácia da oração da fé, nem tampouco disse que os crentes poderiam usar o óleo mesmo que não funcionasse. Nada disso é encontrado no texto. O óleo está intimamente ligado à eficácia da oração. É isso que ele representa. Toda idéia mágica ou sacralizadora do óleo vem de religiões pagãs e entraram no cristianismo com uma “roupagem” de Tiago. Mas o autor sagrado não trata a questão assim. 

Para Tiago, a oração da fé salvará sempre o enfermo. Mas por que Tiago tinha tanta certeza disso? Por que Tiago diz que a oração da fé salvará? O que vemos hoje é apenas a possibilidade de alguém vir a ser curado. Mas ninguém se dá conta dos que não foram curados pela unção com óleo e a chamada “oração da fé”. Por que para Tiago havia tanta certeza em levantar o doente quando hoje se vê tanta falha nas curas? Por que a unção com óleo não falhava? (Sabemos que ela era um sinal do que Deus fazia em nome de Jesus). As possibilidades são duas: 

1) Tiago usa o termo euch em vez de proseucomai. Isto quer dizer que ele não estava pensando em qualquer oração. A oração enfatizada por Tiago é um tipo de declaração confiante de que tudo o que se diz de fato acontecerá. Essa oração não é como muitas das nossas orações quando dizemos “Senhor se quiseres podes curar”. A oração da fé é aquela que as pessoas já têm certeza que é a vontade de Deus realizar. A certeza é tão grande que Tiago chama essa oração de “voto” (euch). Então, neste texto, a ênfase de Tiago não é em uma oração de risco, mas na oração da fé, ou traduzindo melhor, “o voto da fé”, pois quem ora e unge um enfermo apenas declara e ordena a cura daquele enfermo. 

O mesmo sentido de euch é empregado mais adiante no versículo 16, “orai uns pelos outros para serdes curados”, onde ele emprega o verbo eucomai que, na literatura clássica tem o sentido de “fazer declarações confiantes acerca de si mesmo”. Neste texto, por causa do emprego de eucomai, a frase, “orai uns pelos outros para serdes curados”, só pode corresponder ao exercício do dom de cura, que somente pode ser exercitado mediante certeza absoluta de que a cura vai se realizar. Isso não significa que pela expressão “orai uns pelos outros”, Tiago esteja pensando em qualquer pessoa, e sim somente naquelas que têm o dom de cura. Devemos nos lembrar que a época de Tiago é a era apostólica, na qual o dom de cura ainda está presente na Igreja primitiva como credencial apostólica. Isso explica a razão porque Tiago afirma com tanta certeza que a oração (euch) da fé salvará o enfermo. É porque ele está se referindo ao dom de cura, e não a uma simples oração suplicando cura. 

Mas surge uma pergunta: Como pode uma pessoa ter tanta certeza da vontade de Deus para realizar uma cura na vida da outra? Resposta: Revelação! 

Tiago cita um modelo de oração da fé que é a oração de Elias. Quando vamos para o Velho Testamento, descobrimos que Elias não pediu algo sem saber qual era a vontade de Deus. Sua oração foi revelada antes de ser feita. Essa é a única maneira de se saber com certeza a cura do enfermo. Hoje temos a oração “misericordiosa”, onde se apela pela misericórdia de Deus. Mas a “oração da fé” era uma oração revelacional. O que havia era uma cura revelatória. Foi por esta razão que os apóstolos não falharam em uma só cura ou milagre, pois se isso acontecesse, eles seriam desmoralizados diante daquele mundo pagão e não teriam credenciais apostólicas. A fórmula que usaram, “em nome de Jesus”, reivindicava a mesma coisa quando também a usamos nos dias de hoje, pois a honra de Jesus está em jogo. Mas hoje as pessoas não estão advertidas disso quando “declaram” a cura de alguém e ela não acontece. Se declaramos em nome de Jesus e nada acontece, desonramos, diante do mundo, o nome do Deus Todo-Poderoso, pois estamos dizendo que Ele fará, enquanto nada acontece daquilo que dissemos que aconteceria. Essa é a marca do dom de cura – declarar de forma revelatória aquilo que vai acontecer. Aqueles que tinham o dom de cura não falhavam porque curavam mediante oração revelatória. 

Vale salientar também que poucos foram os casos de oração revelatórias antes do ato acontecer. Geralmente as curas eram feitas através de atos, palavras (Atos 9:40 – neste caso ele ora não por cura, mas para ser revelada a vontade de Deus), gestos (Atos 9:12), ou símbolos. Em um caso, por exemplo, Paulo orou pelo pai de Públio, mas impôs as mãos, que era o sinal da cura. Este é um exemplo de Paulo orando para saber a vontade de Deus revelada. Esse era o modelo para o dom de cura. Era uma ordem. Hoje não se vê mais isso. O que vemos é uma longa oração por cura quando se declara várias vezes a restauração do doente e nada acontece. Ora, se dom de cura fosse orar assim: “Ó Senhor, nós suplicamos a cura desta pessoa”, então todos nós teríamos este dom. Mas o dom de cura é declarar a vontade de Deus e a pessoa infalivelmente levantar. Se não temos certeza da cura, não podemos fazer nenhum sinal, porque o sinal diz que há cura, e não que poderá haver. Muitos impõem as mãos achando que vão emitir poder, mas nada acontece. Isto consiste numa profanação do sinal (Calvino), porque o sinal é dado devido à certeza que a pessoa tem da eficácia de sua oração por corresponder exatamente à vontade de Deus. A razão porque as curas eram feitas freqüentemente através de atos era porque aqueles atos eram sinais de confirmação da cura. É claro e evidente que hoje as pessoas se arriscam mais em “gritar orações”, ou fazer algo mais parecido com a primitiva “dança da chuva” em torno de um enfermo, do que lhe dizer em tom calmo e confiante: Levanta-te! Isso só quem podia fazer era aquele que tinha a certeza da cura, a revelação de Deus. 

2) A segunda possibilidade para a certeza da eficácia da oração da fé em Tiago é que o dom de cura estava em vigor na sua época. Calvino diz que Tiago teria ordenado enviar os presbíteros por que eles eram as pessoas que tinham dons de cura. O raciocínio de Calvino está correto pelo fato de não haver nenhuma indicação no Novo Testamento de que a cura seria uma exclusividade para oficiais da igreja. Se os dons de cura foram dados à Igreja da era apostólica como um todo, por que então Tiago orienta a chamar só os presbíteros? Por que não chamar qualquer irmão que tivesse o dom de curar? Ora é claro que a cura poderia ser feita por qualquer membro da igreja, se assim tivesse ele o dom. Não há qualquer contra indicação quanto a isso. A única reposta que temos para essa preferência de Tiago pelos presbíteros era que, na era apostólica, muitos presbíteros tinham dons espetaculares do Espírito. Se a oração dos presbíteros fosse uma oração qualquer (o que já provamos que não é), como as que são feitas de modo geral por todos os enfermos nas reuniões de oração ou nas visitações aos doentes, então Tiago teria ordenado que os crentes mesmo orassem pelo enfermo. Se a questão era orar pelo enfermo, todos podiam fazer. Mas se a questão era curar o enfermo, só quem tinha o dom podia fazê-lo. Essa é a conclusão a que chegamos. Tiago não está enfatizando, com euch, o ato de orar (pois isso ele faz com proseucomai), mas a ênfase no resultado da oração. 

Algumas perguntas que se faz: 

1. P. Há, nos nossos dias, esta “oração da fé” no nosso meio? 

R. Esta oração revelatória já cessou. Deus ainda cura, mas não pelo modelo profético e de revelação. Deus não deseja mais dar uma credencial apostólica a uma “fé” que se tem hoje. O Pastor (ou mesmo qualquer irmão) pode orar por uma pessoa e Deus pode fazer um milagre por que Ele é Deus Todo-Poderoso. Mas a oração que ordena, essa cessou! Porque hoje não há mais o dom de uma pessoa curar, porque se assim fosse, ela seria “sacralizada”. Na época apostólica eles faziam isso porque tinham autoridade revelacional de Deus, porque estavam sob a autoridade dos apóstolos que eram o fundamento da Igreja. Para ser fundamento da Igreja tem de se ter credencial. Hoje a ordem é pregar e a fé que cura virá. A ordem nunca foi para se curar multidões. Nem Paulo fazia isso. Os apóstolos curavam para autenticar (demonstrar credenciais) a mensagem que anunciavam de que o Deus verdadeiro era aquele que operava. Como toda a aliança se inaugura com profecias e sinais, a Nova Aliança também. Deus cura ainda hoje? Sim, Ele é o mesmo. No entanto não há mais necessidade de dom de cura. 

2. P. Quando dizemos que este dom cessou, não estaríamos limitando o poder de Deus? 

R. Respondemos perguntando: Deus dá dons extraordinários à Igreja hoje? Se você disser que sim, deve também responder à indagação: Porque a maioria das igrejas não tem este dom? Será porque o povo não jejua, porque não ora, ou porque é fraco? Será que dom é algo condicionado a isso. Dom seria algo condicional ou uma dádiva especial de Deus? Dom é dádiva, não é algo condicional. O que dizer da igreja de Corinto. Os crentes daquela igreja eram espirituais ou carnais para que recebessem aqueles dons? Paulo diz que eles eram carnais. Além do mais, muitas pessoas falam de coisas extraordinárias que têm acontecido. Mas será que isso tudo é verdade? Tenho visto pessoas falarem de profetas mais parecidos com adivinhos do que com os profetas descritos na Bíblia e que estão dentro das igrejas. A grande pergunta é: Com que propósito Deus credenciaria estes profetas ou realizadores de curas hoje? O Novo Testamento tanto quanto o Velho Testamento nos mostra que estes sinais não tinham um fim em si mesmo, o propósito não era a cura em si mesma. Estes sinais sempre tiveram um caráter de credenciar a mensagem pregada para revelar Jesus, o Salvador (caráter histórico-redentivo). Os que tinham dom de cura não nunca falhavam. Isso acontece hoje? Será que hoje alguém tem uma revelação infalível de que aquele doente será curado? 

3. P. Um missionário em um país distante não poderia realizar curas com este propósito semelhante ao da era apostólica? 

R. Temos de ter cuidado com esta afirmação. Podem acontecer coisas extraordinárias, é verdade. Não negamos. Mas, não como dom. O modelo para ser missionário e que fará o homem conhecer a Jesus não é este, não é fazer sinais e maravilhas, não são milagres. O milagre sempre serviu para “colocar no papel” a verdade de Deus, autenticar a verdade revelada na Escritura. Era importante para dar as credenciais do que estavam anunciando na era apostólica, mas a Bíblia nos diz claramente que agora a fé vem pela pregação. Este é o modelo determinado por Deus para se fazer missões e evangelizar. Não há outra ordem para nós hoje. Muitos pensam que os milagres realizados na era apostólica eram para que as pessoas se convertessem, mas não era. A maioria viu e não se converteu. Era para dar credencial da verdade para o mundo e não só para algumas pessoas em especial. Era para nós hoje, para o mundo, para a Igreja de todas as épocas. Vemos isso em Jo 20:30-31. Jesus realizou muitos sinais que não foram escritos, mas alguns foram escritos para que eles cressem que Ele era o Filho de Deus, mas hoje não precisamos de sinais. Hoje é a pregação e não sinais. Jesus disse para os judeus, escribas e fariseus que pediam sinais: “Vocês pedem sinais porque são uma geração de incrédulos!”. Muitos querem ver para crer, sim, mas os sinais que Jesus realizou, Ele e os apóstolos, além dos que estavam sob a égide apostólica tinham um caráter autenticador da Palavra (Atos 14:3; Romanos 15:18-19; II Co 12:12; Hebreus 2:3-4). Deus ainda cura hoje, mas o faz por misericórdia, por amor; não é para evangelizar. Estes programas de cura para encher as igrejas estão errados, pois a ordem é: “Assim está escrito que o Cristo havia de padecer, e ressuscitar dentre os mortos no terceiro dia, e que em seu nome se pregasse arrependimento para remissão de pecados...” (Lc 24:46-47). Vemos pregação de arrependimento hoje? A maioria das mensagens de hoje não trata desta questão. Ouçam as mensagens dos evangelistas de rádio e TV. Na verdade o Evangelho não é pregado e sim a ênfase tem sido em milagres e testemunhos emocionais. A coisa mais extraordinária que existe é alguém que está caminhando para o inferno, ouvir o Evangelho, converter-se e caminhar para o céu. Este evangelho que leva o homem ao arrependimento é o que devemos pregar

Fonte: Revista Os Puritanos, 02-2002