25.2.18

7 FATOS APONTADOS POR UM FACT-CHECKING DE FAKE NEWS QUE IRÃO ENLOUQUECER E CONFUNDIR JORNALISTAS E ANALISTAS POLÍTICOS NAS ELEIÇÕES DE 2018



7 FATOS APONTADOS POR UM FACT-CHECKING DE FAKE NEWS QUE IRÃO ENLOUQUECER E CONFUNDIR JORNALISTAS E ANALISTAS POLÍTICOS NAS ELEIÇÕES DE 2018

IMPREVISÍVEL é a palavra predominante das eleições de 2018 no Brasil. Haverá uma certeza:

Uma guerra de desinformação será travada nas eleições de 2018 aqui no Brasil.

O cenário da disputa eleitoral vai se desenhando e algo “semelhante” à corrida presidencial dos EUA em 2016 irá surgir por aqui de modo nunca visto antes.

Se em 2014 já experimentamos no Brasil a primeira onda de fake news, agora estamos diante de um tsunami. As noticias falsas sempre existiram, mas ganharam nos últimos anos uma força de contágio muito forte, potencializada pela comunicação digital e redes sociais. As fake news e seu controle na internet são desafios extraordinários para as eleições de 2018. O quanto irá alterar o processo eleitoral saberemos no final das eleições.

No final do ano de 2017 um relatório internacional posicionou o Brasil em 4º lugar em usuários de Internet. -- Com aproximadamente 120 milhões de pessoas conectadas, o Brasil fica atrás apenas dos Estados Unidos (242 milhões), Índia (333) e China (705). Depois do Brasil, aparecem Japão (118), Rússia (104), Nigéria (87), Alemanha (72), México (72) e Reino Unido (59). – (agenciabrasil.ebc.com.br).

A multiplicação de histórias falsas na política vai explodir este ano no Brasil. O que já vem acontecendo desde 2014. Se este fenômeno é motivo de grande ou pequeno impacto no resultado das eleições é ainda um assunto controverso e de resultado imprevisível. Tudo ainda é muito novo e rápido. As cadeias causais são desafiadoras para os analistas. 

E por mais que se diga que haverá algum tipo de controle por parte da Justiça Eleitoral, Polícia Federal, Abin, MP, Exército etc., a vigilância desses órgãos não consegue acompanhar a rapidez e a quantidade do fluxo de informações falsas que surgem a cada segundo. Este é o primeiro fato:

1. A rapidez e a frequência de conteúdos em circulação têm um fluxo gigantesco que dificulta a constatação da veracidade. Imagine a floresta amazônica pegando fogo e uma brigada de incêndio tentando apagar milhares de focos ao mesmo tempo, é praticamente impossível.

As tecnologias atuais para filtrar a veracidade de fatos e a Ciência da Informação estão em fase inicial de eficácia no combate às  fake news. As gigantes Google e Facebook, que comem uma fatia de mais da metade do mercado publicitário digital do mundo, vêm investindo bilhões de dólares para desenvolverem tecnologias de detecção de fake news, mas os problemas de verificação não são simples de resolver. 

Detecção e filtragem exigem que os computadores realizem o trabalho de checagem de um exército de jornalistas. É um desafio monstruoso filtrar informação em grande escala, e 2018 não está preparado ainda para isso, muito menos no Brasil. Se EUA, Alemanha e França ainda estão tentando resolver este problema, o Brasil não vai encontrar a solução em 2018.

A complexidade em detectar uma mentira é mais fácil para um humano do que para uma máquina (algoritmos), elas ainda não são tão boas em criar ou desmascarar mentiras quanto nós. A notícia falsa geralmente se esconde sutilmente atrás de uma aparência de fonte confiável, de um jornalismo sério e de credibilidade. A imprensa pode até tentar apagar os focos de incêndios das fake news, mas em 2018 não está preparada para resolver o problema.

2. A alta conectividade digital em crescimento. Se o fenômeno de notícias falsas em larga escala no Brasil nas eleições 2014 gerou aproximadamente 10% do fluxo de informação da Internet. Este fluxo pode facilmente dobrar em 2018. Na Internet mundial o conteúdo digital dobra a cada dois anos. O Brasil é um dos maiores usuários do mundo do Facebook, WhatsApp, Instagram e You Tube (o WhatsApp em termos de viralização de uma notícia positiva ou negativa se espalha mais rápido e para mais pessoas do que o compartilhamento do Facebook, por exemplo, pois a visibilidade deste é mais segmentada por algoritmos e acaba reforçando o efeito bolha).

O brasileiro é um campeão mundial quando se trata de conectividade na Internet, e encontra-se em forte expansão. Some este crescimento vertiginoso com o analfabetismo funcional. O próximo fato.

3. O analfabetismo funcional brasileiro ultrapassa 90% em variados níveis de alfabetização precária. Mesmo quem é alfabetizado elementarmente, a maioria quando realiza uma leitura na Internet lê apenas o título ou o primeiro parágrafo, numa leitura escaneada e superficial. Assim são os usuários da Internet brasileira e também os eleitores. O que falta em leitura nos brasileiros sobra em criatividade, o Brasil é o maior produtor de memes do mundo.

Os memes são basicamente “imagens-mensagens” virais de difícil conceituação, mas de fácil compreensão no mundo digital. O meme parece inofensivo quando comparado a uma notícia falsa, mas tem um poder de detração sutil, pode ser usado juntamente com as fake news com a intenção “plantar” ideia, ridicularizar, menosprezar, atacar a credibilidade de um adversário, manipular, distorcer e desconstruir uma ideia ou pessoa; é uma arma de propaganda e persuasão. Foi muito usada nas eleições de 2014.

4. O brasileiro adora notícia sensacionalista e negativa. Neste quesito não estamos sozinhos. Notícias falsas sobre eleição nos EUA (2016) tiveram mais alcance que notícias reais. A Buzzfeed News analisou 40 notícias (verdadeiras e falsas) em três meses. Vinte notícias falsas tiveram desempenho superior ao conteúdo de jornais. Várias notícias falsas sobre as eleições presidenciais nos Estados Unidos tiveram mais alcance no Facebook do que as principais histórias eleitorais de 19 grandes fontes de notícias, como os jornais “New York Times”, o “Washington Post” e a NBC News. Geraram mais acessos e compartilhamentos, na casa dos milhões em cada fake newsfake News. 

Fatores negativos comprovadamente atraem a atenção. As mensagens positivas, “do bem”, emocionais, de autoajuda, também desempenham um alto fluxo de compartilhamentos, mas quando se trata de eleições, a guerra de informações prevalece e a polarização política é acentuada. Seja na América de cima ou de baixo. A polarização política é o quinto ponto.

5. Polarização política é uma barreira ideológica monstruosa que impede qualquer diálogo civilizado e não vai mudar para melhor em 2018. Faça uma pesquisa rápida por imagens sobre as eleições na América do Norte e observe os mapas infográficos divididos em azul e vermelho, e a paixão pelas cores e ideologias. Por aqui não é diferente, de um lado o vermelho da esquerda e do outro as cores da bandeira nacional, verde e amarelo, que caracteriza muito mais um antiesquerdismo crescente, do que uma direita e conservadorismo em ascensão. A polarização política é fato nas ruas e os extremos são acentuados nas redes virtuais, basta atentar para os rótulos comuns de “Mortadelas vs Coxinhas”.

Augusto de Franco, um especialista em redes sociais, destaca que “há trinta anos, não muito mais do que cinco mil pessoas participavam regularmente do debate público no Brasil e, agora, mais de um milhão de pessoas interagem politicamente”. – O jornalismo clássico de massa (mainstream media) e os institutos de pesquisas sempre trabalharam como fabricantes de tendências e factoides, ou pelo menos sempre foram acusados dessas práticas. E agora se encontram em um tipo de crise adaptativa em meio ao tsunami de desinformações. 

Os jornais tradicionais apontam que as páginas fake news subiram mais de 60%, enquanto as páginas de jornalismo tradicional caíram aproximadamente 20%. Jornalismo em queda, fake news em alta, este é o quadro de 2018. Dois terços dos adultos norte-americanos (67%) declararam que se informam via redes sociais, de acordo com um estudo de agosto de 2017 realizado pelo Pew Research Centre. -- brasil.elpais.com. – O Brasil segue o mesmo rumo, com níveis menores de escolaridade.

6. As pessoas amam compartilhar histórias, notícias e informações, todos nós temos uma tendência de acreditar na "autoridade" de pessoas que confiamos. Há estudos que indicam que aproximadamente 50% das decisões tomadas no dia a dia tem origem na influência social (buzz). -- A Economia Comportamental está aí para todo mundo comprovar seu poder de ligação entre Consumo e Cérebro, Marketing e Psicologia. Palavras-chaves como “confiança”, “emocional”, exemplificam que a influência social é mais eficiente que a informação em si. A informação (falsa ou verdadeira) sozinha não é nada, mas quando compartilhada por pessoas de confiança faz toda diferença.

O que está em jogo é muito mais que a história, é a credibilidade do que “merece” ser compartilhada. – Se eu sou vegetariano e tenho um amigo que ama carne e vai ser inaugurada uma excelente churrascaria na cidade, ele não vai compartilhar esta informação comigo, e sim, irá selecionar, segmentar outro amigo que tenha interesse nessa notícia, essa é a eficiência do compartilhamento. No caso dos memes ou das fake news, a mensagem não é nada em si, mas apenas um gatilho, o que realmente faz diferença é a interação, a transmissão social que seja relevante para algumas pessoas ou grupos. Esse é o peso real da influência e persuasão. 

O poder do contágio se concentra neste ponto: confiamos mais em recomendações de amigos sociais, não nas fake news em si. Por isso é crescente um novo personagem neste cenário: os influencers.
Quem nunca...? Muitas vezes por falta de tempo ou pela urgência e apelo de uma mensagem ou por preguiça mesmo, compartilhamos uma mensagem por que algum amigo social nos enviou, e não nos damos ao trabalho de fazer uma breve checagem e acabamos repassando uma informação falsa.

7. Há três tipos de reações de pessoas que consomem e compartilham fake . A) Há os Checadores dos Fatos (fact-checking), estes desconfiam de todas as notícias e sabem identificar as fake news, não compartilham ou não comentam desmerecendo a informação ou ainda, alertam outros da falsidade, prezam pela ética; B) Outros serão manipulados e não saberão evitar compartilhar a falsa notícia, não são educados politicamente e serão enganados mais facilmente; C) Outros reconhecem que é uma fake news, mas a compartilhará como verdade porque faz parte do jogo da desinformação (os fins justificam os meios). A intenção deste último pode ser para desestabilizar adversários. E gerar boatos é uma ferramenta de contrapropaganda, muitos fazem por lucro, fanatismo ou provocação. Neste caso não há nenhuma preocupação pela ética e cidadania.

Indivíduos, grupos e agências de fact-cheking têm crescido em mais de 40 países. No Brasil há três agências e nos EUA há 43. As agências auxiliam o jornalismo profissional e reforçam as fileiras de combates aos focos de fake news.

Conclusão:

Milhões de pessoas procurando, recebendo e compartilhando mensagens em um volume de dados na casa dos bilhões diariamente. A previsão é que até 2020 haja um total de 40 trilhões de gigabytes de dados no mundo. Por várias razões, o senso crítico das pessoas que consomem informação na Internet está em níveis baixos, consequentemente as notícias falsas e sensacionalistas atraem mais que as fontes razoavelmente confiáveis. Não por acaso, o interesse pelas fake news e apelos à emoção são fontes de dinheiro para os produtores ou atrai alguma vantagem aparente. A maioria do público é imediatista e checar mídias, jornais, internet não faz parte do dia-a-dia das pessoas.

Raniere Menezes
Frases Protestantes

Imagem:

Ferdinand van Kessel (Flemish, 1648–1696)



17.2.18

Como entrar em desacordo e argumentar de maneira intelectualmente honesta


Como entrar em desacordo e argumentar de maneira intelectualmente honesta

Como entrar em desacordo

A internet transformou a escrita em conversação. Há vinte anos, escritores escreviam e leitores liam. A internet permite que seus leitores respondam, e cada vez mais eles fazem em comentários em posts, fóruns e em seus próprios blogs. Muitos daqueles que respondem tem algo a discordar sobre o que leem. Isso já é esperado. Concordar com um texto motiva menos as pessoas do que discordar. Quando você concorda, há menos para se dizer. Você pode expandir o que o autor afirmou, mas talvez ele já explorou todas as implicações interessantes. Quando você entra em desacordo, você está entrando em um território que o autor ainda não explorou.

O resultado é que há muito mais divergências acontecendo, e você pode medir isso pelas palavras e respostas por aí. Isso não significa que as pessoas tem se tornado raivosas. A mudança estrutural na maneira de como nós nos comunicamos já é suficiente para explicar isso. Apesar de não ser a raiva que está causando um aumento nos número de desacordos, há o perigo de que o aumento no número de deles faça com que as pessoas se tornem mais raivosas e infelizes umas com as outras. Particularmente online, onde é fácil dizer coisas que você nunca diria cara a cara.

Se nós vamos entrar em desacordo mais vezes, então nós deveríamos tomar cuidado com isso. Muitos leitores conseguem saber a diferença entre xingamentos e uma refutação cuidadosamente construída, mas eu acho que ajudaria se colocássemos nomes para os estágios intermediários. Então tentaremos estabelecer uma hierarquia do desacordo.

0) Xingamento

Essa é a forma mais baixa de desacordo e provavelmente a mais comum. Todos nós já vimos comentários assim:

“vc é uma bicha!!!”

Mas é mais importante perceber que uma forma mais articulada de xingamento também tem o mesmo peso. Um comentário do tipo
“O autor é pedante e o artigo é horrivelmente construído.”

não é nada além de uma versão pretensiosa de “vc é uma bicha!!!”.

1) Ad Hominem

Um ataque ad hominem não é tão fraco quanto um simples xingamento. Ele pode conter algum peso. Por exemplo, se um senador escreve um artigo dizendo que os salários dos senadores deveriam ser aumentados, alguém poderia rebater:

“Claro que ele diz isso. Ele é um senador.”

Isso não refutaria o argumento do autor, mas pode pelo menos parecer relevante para este caso. No entanto, ainda é uma forma bem fraca de desacordo. Se há algo de errado com o argumento do senador em si, então você deveria dizer o que está errado; e se não há, então que diferença faz o fato de ele ser um senador?

Dizer que um autor não tem autoridade para escrever sobre um assunto é uma variante de ad hominem e particularmente uma variante inútil, pois as boas ideias geralmente vêm dos outsiders (aqueles que ainda são desconhecidos no meio). A questão é sobre o autor estar correto ou não. Se a sua falta de autoridade causou e fez com que ele cometa erros, então aponte-os. E se falta de autoridade não está ligada aos supostos erros, então ela é realmente irrelevante.

2) Respondendo ao tom

Nesse nível superior começamos a ver respostas ligadas diretamente ao conteúdo do texto, ao invés de serem ligadas ao autor. A forma mais inferior desse tipo de argumento é discordar do tom utilizado pelo autor no texto. Por exemplo:

“Eu não posso acreditar que o autor rebate o Design Inteligente de maneira tão arrogante.”

Apesar de ser melhor do que atacar o autor, esse ainda é uma forma fraca de divergir. É muito mais importante saber se o autor está certo ou errado do que apontar os dedos para o tom utilizado em seu escrito. Especialmente porque é difícil julgar um tom de maneira isenta. Alguém que está emocionalmente envolvido com determinado tema pode sentir-se ofendido por um determinado tom, enquanto o mesmo pode ter sido percebido como neutro por outros leitores.

Então, se a pior coisa que você pode dizer a respeito de algo é criticar o seu suposto tom, então você não está dizendo muito. O autor é rude, porém correto em seus argumentos? Melhor isso do que ser grosseiro e estar errado. E se o autor está errado em alguma afirmação, aponte onde está o erro e refute.

3) Contradição

É nesse estágio que nós finalmente encontramos respostas minimamente substanciais para o que foi dito, ao invés de respostas para como tais coisas foram ditas ou por quem elas foram ditas. A forma mais baixa de se responder à um argumento é simplesmente afirmar o oposto, contradizendo o autor, com nenhuma ou pouca evidência, através de um argumento falacioso ou simplesmente frágil.

Esse tipo de argumento é muitas vezes combinado com argumentos do tipo (2), de resposta ao tom:

“Eu não posso acreditar que o autor rebate o Design Inteligente de maneira tão arrogante. O Design Inteligente é sim uma teoria científica.”

A contradição pode ter algum peso. Às vezes, apenas contradizer e afirmar o oposto explicitamente pode ser suficiente para verificar-se que está correto. Na maioria dos casos, evidências e uma argumentação mais rica são necessárias.

4) Contra-argumento

No nível (4) encontramos a primeira forma de desacordo convincente: o contra-argumento. Até esse ponto, todas as formas anteriores podem ser ignoradas como irrelevantes e muito inferiores. O contra-argumento pode provar ou refutar algo. O problema é que pode ser difícil verificar o que um contra-argumento realmente prova.

Um contra-argumento é uma contradição expressa em conjunto de evidências confiáveis e argumentação lógica sólida. Quando direcionado diretamente contra o argumento original do autor, ele pode ser convincente. Mas infelizmente é comum encontrar contra-argumentos que estão atacando posições diferentes daquelas alçadas originalmente pelo autor. Nesse sentido, podemos dizer que um bom contra-argumento pode estar tentando atacar um “espantalho” do argumento original do autor criado conscientemente ou não e que é uma versão distorcida do argumento, geralmente fácil de ser rebatida. Muitas vezes, duas pessoas estão discutindo passionalmente sobre duas coisas completamente diferentes. Os indivíduos até concordam um com o outro, mas estão tão profundamente envolvidos no embate que acabam cegando para esse fato.

É possível que exista uma razão legítima para argumentar contra alguma coisa ligeiramente diferente daquela que sustentada originalmente pelo autor: quando você percebe que ele deixou escapar o âmago ou ponto central da questão. Mas quando você fizer isso, deve dizer explicitamente, de maneira textual e direta, que você percebeu que o autor errou por pouco o alvo.

5) Refutação

A maneira mais convincente divergir de seu proponente é a refutação. É também a mais rara, já que é a mais difícil. De fato, a hierarquia do desacordo forma uma espécie de pirâmide, no sentido de que as formas que se encontram no topo são as mais raras de se encontrar.

Para refutar alguém, é preciso que provavelmente você faça uma citação do argumento do mesmo. Você precisa ser capaz de achar uma “fumaça” ou “ponto fraco” em uma passagem do texto do autor que você percebe que está errada, e então explicar por que ela está errada. Se você não consegue encontrar uma passagem textual, de preferência clara e objetiva, então é possível que você esteja correndo o risco de estar argumentando contra um “espantalho” criado pela sua própria sede de encontrar uma falha nos argumentos do autor.

Mesmo que a refutação geralmente venha forma de criação de citações de passagens do texto do autor, o fato de estar citando passagens diretas do texto do autor não implica que uma refutação está realmente acontecendo. Algumas pessoas citam partes do texto que elas discordam apenas para dar a aparência de que estão prestando atenção nos argumentos, e de que estão produzindo uma refutação legítima, quando na verdade estão construindo uma resposta tão inferior quanto uma (3) contradição ou um (0) xingamento.

6) Refutando o ponto central.

A força de uma refutação depende daquilo que você refuta. A forma mais poderosa de desacordo é refutar o ponto central afirmado por alguém.

Muitas vezes, mesmo em níveis alto como (5), encontramos desonestidade intelectual deliberada, como por exemplo quando alguém refuta apenas os argumentos acessórios ou adjacentes ao argumento central proposto pelo autor que ainda se mantém forte em seu ponto central. A refutação do ponto central é tão forte e avassaladora que, na maioria das vezes, é percebida pelo público como um grande ad hominem ou como arrogância e abuso de intelectualidade por parte do refutador, ao invés de um argumento legítimo.

Para verdadeiramente refutar algo, é necessária uma refutação do ponto central ou pelo menos de alguns deles. E isso significa se comprometer em expressar textualmente, da maneira mais objetiva possível, qual é o ponto central que está sendo refutado no momento. Então, uma refutação verdadeiramente efetiva se parece com isso:

“O ponto central do autor parece ser x. Como ele mesmo diz:
Mas isso está errado por diversas razões, como por exemplo y e z…”

A citação apontada não precisa ser necessariamente uma afirmação textual exata àquela expressa originalmente pelo autor em seu ponto central. Algumas vezes, alguma citação que prove uma dependência essencial em relação ao ponto central já é suficiente.

O que isso tudo significa

Agora nós temos uma maneira ligeiramente informal de classificar formas de desacordo. Qual o benefício disso? Uma coisa que a hierarquia do desacordo não nos dá é uma maneira de escolher um argumento vencedor. Os níveis apenas descrevem o formato dos argumentos e não se eles são corretos. Uma resposta (6) de refutação do ponto central, ainda que sólida, pode estar completamente errada.

Mesmo que os níveis de desacordo não estremem um limite inferior sobre o grau de convencimento de respostas e replicas em uma discussão, eles acabam sim delimitando um limite superior. Uma resposta (6) de refutação do ponto central pode não ser convincente, mas uma (2) de resposta ao tom do texto do autor é sempre fraca e inconvincente.

A vantagem mais óbvia de se classificar formas de entrar em divergência é que isso pode ajudar as pessoas a avaliar o que elas estão lendo. Em particular, vai ajudar elas a identificar argumentos intelectualmente desonestos. Um orador eloquente ou escritor pode causar a impressão de estar subjugando oponentes apenas por estar usando palavras de impacto. De fato, essa é a qualidade dos demagogos. Ao dar nomes para as diferentes formas de entrar em desacordo, damos aos leitores um alfinete para estourar tais balões argumentativos.

Tais rótulos podem ajudar os escritores também. A maioria das desonestidades intelectuais são não-intencionais, muitas vezes irracionais e inconscientes. Alguém que está argumentando contra o tom empregado pelo autor em um texto pode realmente acreditar que o texto está falando algo válido. Dar um passo para trás e ver a figura de longe pode inspirá-lo a tentar mover as suas respostas para o status de (4) contra-argumento ou (5) refutação.

Mas o grande benefício de entrar em desacordo de maneira racional e inteligente não é que isso pode fazer com que as nossas conversas fiquem melhores, mas fazer com que as pessoas envolvidas nelas tornem-se mais felizes. Se você estudar as conversas, perceberá que os argumento próximos de (1) contém muita mesquinhez e maldade. Para destruir um argumento você não precisa destruir o oponente. De fato, você não quer. Se você se concentrar em subir a hierarquia da pirâmide do desacordo, farás com que a maioria das pessoas tornem-se felizes. A maioria das pessoas não gosta de mesquinhez; elas só fazem isso porque se envolvem emocionalmente.

*Paul Graham, Ph.D. em Ciência da Computação pela Havard University e B.A. em Filosofia pela Cornell University, empreendedor do Vale do Silício e famoso pelo seu trabalho na linguagem de programação Lisp (autor de ‘On Lisp’ e ‘ANSI Common Lisp’).
Via: Bule Voador